“Não” foi a sua
primeira palavra, segundo lhe contaram os pais.
“Não” era o que lhe
ocorria responder sempre que a surpreendiam com algum convite ou proposta. “És
muito desconfiada rapariga”, brincava com ela a avó. “Torcida, isso, sim”
acrescentava a tia. Não lhes levara a mal porque lho diziam com carinho. A elas
até era capaz de logo a seguir dizer sim. Sim avó quero ir contigo à feira, sim
tia vou ajudar-te a dobrar a roupa lavada.
Ela via-o como um meio
de defesa ou de afirmação, essa sua primeira reacção que depois com a família e
amigos conseguia inverter.
Foi uma sorte ter
começado a namorar com o Rui sem perguntas de surpresa. Conheceram-se pelos
amigos comuns, saíam primeiro em grupo. A certa altura como que decidiram em
conjunto, vamos jantar hoje os dois ou vamos ao cinema. Davam-se bem e a
proximidade entre eles crescia.
Contudo, não estava à
espera, nem preparada para, que num belo dia, ao jantar, ele se virasse para
ela e com uma voz séria lhe perguntasse: “Queres casar comigo?” E nem faltava o
anel.
Podia ter ficado sem
fala (antes isso, mil vezes), mas o que é que lhe ocorreu responder?
- “Não”.
Seguiu-se um grande
silêncio. Para ser tudo ainda pior, estavam num restaurante e nas mesas ao lado
as pessoas que antes sorriram ao ouvir a pergunta, ficaram com o mesmo rosto
sério que o Rui à sua frente.
Felizmente conseguiu
reagir e num tom de voz bem alto como se impunha, corrigiu: “Não diria nunca
que não, quero sim”.
Porque ele gostava dela
(mesmo muito) e conhecia aquela sua característica, desculpou-a, mas vingou-se
mais tarde no Facebook dela onde escreveu “Pedi-a em casamento e ela disse
não”.
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