As mãos, estranhamente
tremiam.
Olhou para elas,
brancas, com as articulações dos dedos salientes, transpareciam as veias azuis,
evidenciavam-se os pontos castanhos nelas semeados.
Orgulhara-se da sua
força e da sua delicadeza.
No trabalho conseguia operar
todas as máquinas que o exigiam. Tinham-no até referido no seu discurso da
despedida.
Houve uma altura em que
com apenas uma das mãos segurara o seu filho, bebé recém-nascido. Continuara
depois a ser capaz de o erguer do chão numa brincadeira só dos dois, utilizando
de seguida as duas mãos para o colocar às cavalitas.
O filho crescera e
entre eles tinha-se instalado uma reserva pesada.
Fora capaz com elas de
acariciar tão levemente o rosto da mulher, que apenas os dois o viam. Com um
toque assim se despediu, a frieza da face dela a dizer-lhe que a partir dali só
ele o sabia.
Olhava pouco para si
próprio sobretudo desde que deixara de fazer a barba. No pequeno espelho da
casa de banho, embaciado pelo vapor da água e pelo tempo, mal se via.
Reconhecia o seu reflexo, mas não tinha notado como mudara.
Naquela segunda-feira
fora às compras como costumava fazer todas as semanas.
Voltara apenas com dois
sacos plásticos, pouco cheios.
Custou-lhe mais do que
se lembrava subir os dois lances de escadas. Atribuiu-o ao tabaco, mau hábito que
ainda não deixara, e ao frio.
Pousou os sacos junto à
porta, enquanto procurava a chave no bolso do casaco.
E foi então que o
notou, aquele tremor bem visível. Com dificuldade encontrou a chave e enfiou-a
na fechadura.
Envelhecera.
Pela primeira vez
pensou na idade que tinha e em como o veriam aqueles com quem se cruzava.
Talvez devesse marcar
uma consulta no Centro de Saúde. E talvez devesse ligar ao filho.
gosto destes teus textos, Gabi, muito!
ResponderEliminarmuito obrigada Laura, como admiro tanto o que escreves, gostei muito do teu comentário
EliminarUm texto muito bom amiga. Um retrato de vida que gostei de ler.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
e poderia repetir aqui o que escrevi em cima, Elvira
Eliminarobrigada pelo incentivo e pela companhia
um abraço