Post 6395 - Desafio de Escrita 2/10 Samir

Nova escola e ele continuava demasiado pequeno, demasiado magro e calado, a tentar esconder-se em vão nas sombras.

O que já previa aconteceu, caras diferentes, as mesmas atitudes de troça, às vezes rasteiras e empurrões, a fazerem dos intervalos pesadelos e a impedirem-no de se concentrar nas aulas.

Acordava de manhã a querer que o dia chegasse ao fim, para poder refugiar-se em casa. Por vergonha não contava aos pais o que se passava, o que sentia. Também não tinham muito tempo para o verem, para verem o que escondia ou fingia. Em cada novo dia, desde a manhã até ao seu regresso, tudo se repetia.

Odiava-os, odiava-se a si mesmo por não reagir, por recear que o ferissem. Fazia que não ouvia, mas a troça deles inundava-o de asco por eles e por si mesmo. Lixo, são todos um lixo, pensava enquanto por fora se encolhia.

Até que numa das manhãs, naquela nova escola, chegou um colega que faltava. Tinha estado doente, contaram. Ele chegou e parecia o seu oposto. Não era de forma alguma gordo ou alto, mas ocupava espaço com a sua calma e segurança. Sentou-se ao seu lado e nele não viu desdém. Tinha um olhar limpo e verdadeiro. Não proferiu palavras de troça, mas apresentou–se, dizendo-lhe o seu nome, que era o mesmo que o dele, Samir.

E Samir significa amigo, companheiro. Sabiam os dois disso e sorriram, do nome que partilhavam, do seu significado e sobretudo porque o souberam e sentiram.

Opostos ou iguais, os dois Samir passaram a andar juntos, sem precisarem de palavras para o explicarem ou dizerem. Mesmo se se desentendiam, nunca se decepcionaram.

Calaram-se os cobardes da troça, acabaram as rasteiras e os empurrões

Ele não voltou a achar-se só ou diferente. Tinha um amigo.