Post 6385 Desafio de Escrita 1/10 O telemóvel

Não sabia se entrava ou se saía, dia enevoado, e sentia-se meio tonta. Contudo, viu‑o bem, na relva, ao lado dos degraus da entrada do prédio. Pegou nele como se fosse o seu, e guardou-o na carteira, mas sabia que não era. Última geração e antracite quando o seu era apenas cinzento. Não voltou a mexer-lhe, mas pesava-lhe na consciência.

Nessa mesma altura, a sua vizinha da frente, do 1º direito, reparou que lhe faltava o telemóvel. Não pensou que poderia ter-lhe caído da mala quando guardava ou procurava a chave da entrada. Sabia que o marido andava desconfiado. Concluiu logo que tinha sido ele a tirar-lhe o telemóvel. Lá tinha tudo, as mensagens e fotografias trocadas, a marcação dos encontros. Decidiu que tinha de avisar o amante e sem telemóvel o melhor era ir lá a casa dele.

Só teve de abrir a porta, percorrer dois metros e tocar no 1º esquerdo. Felizmente foi ele que veio abrir, e segredou-lhe o que temia. Viu como ficava preocupado. Separaram-se assustados sem qualquer plano.

Ele não sabia, mas a mulher ouvi-os. Ouviu também quando o marido foi buscar a pistola que escondia no cofre e uma hora depois, quando o marido da vizinha chegava, o foi confrontar às escadas.

Soaram dois tiros. Sufocou ao adivinhar-se viúva ou mulher do assassino. Gritou e quase caiu da cama.

Que pesadelo.

Com tudo aquilo atrasara-se. Correu para tomar duche, agarrou na mala, correu para a porta, desceu dois degraus e estacou. Ali, ao lado dos degraus, o telemóvel.

Agarrou nele e voltou para trás. Tocou incessantemente à porta da vizinha até que esta estremunhada veio abrir.

- Pegue o seu telemóvel!

- Mas, mas, não é meu.

Olhou melhor e percebeu que era o seu, caíra-lhe da mala quando saia.

Envergonhada guardou-o e fugiu.