Queria encontrar o amor
e procurava-o na perfeição. Não tinha consciência dos corações despedaçados que
ia deixando pelo caminho, nem se importava. O objecto do seu interesse cedo se
tornava um aborrecimento. Uma vez conquistado, descobria que afinal não
correspondia ao que tinha idealizado. Deitava-se com uma deusa, acordava com
uma mulher, de quem então só via os defeitos.
Há cerca de duas
semanas quando se deixara deslumbrar por uma conservadora, tinham marcado um
encontro naquele Museu. Enquanto esperava por ela, tinha-se deixado vaguear pelas
salas, até que num canto, quase
escondida a descobrira. Esculpida em mármore rosa, quase da sua altura, a sua
beleza deixara-o sem palavras. Tudo nela era perfeição, as feições simétricas,
a proporção no seu corpo. Em pé, a olhar para baixo, parecia aguardar. Tão viva
que quase esperaria ouvir a suave respiração, o arfar do seu alvo peito, um
pestanejar que a levasse a erguer o rosto e a vê-lo. Nessa altura, fora
surpreendido pela jovem com quem se ia encontrar. Dir-se-ia que tinha ficado
com ciúmes porque quase o arrastou dali. Disse-lhe que a estátua tinha de ser
reparada antes de poder ser exposta, o que a ele soou a falso. Dormiram juntos só
uma vez, naquela noite. De manhã disse-lhe que não queria mais vê-la e teve
prazer em dizê-lo, quando normalmente só se sentia era indiferente e vazio por
mais uma vez se ter enganado.
Dali em diante começou a sua obsessão. Passou a
ir ao Museu todos os dias procurá-la, nos intervalos de trabalho e aos
fins-de-semana. Houve dias em que não conseguiu descobri-la. Reparou que a
mudavam de sala e normalmente a deixavam em espaços com pouca luz e salas
secundárias. Um dia, conseguiu encontrá-la bem cedo e numa sala vazia.
Finalmente apenas os dois. Aproximou-se com cuidado, transpôs o círculo que a
rodeava, levantou um braço em direcção ao seu belo rosto e tocou-lhe. Sentiu frio,
o gelo que dela vinha, e percebeu. Não iria conseguir despertá-la. A perfeição
da sua beleza esculpida e imortalizada no mármore, era de pedra, tão
indiferente a ele, como ele tinha sido até àquela data, e afinal imperfeita
porque sem vida. Qualquer das mulheres com que se deitara, na imperfeição revelada
pela luz da madrugada, a suplantava, apenas por estar viva. A vida era ilusão e
decepção, medo e raiva, e o amor era ser capaz de ver a perfeição da
imperfeição.
Texto fantástico, Gábi!!
ResponderEliminarChapelada desde Macau!!
Beijinhos
Gostei tanto!!!!
ResponderEliminarBeijos
Gostei tanto!!!!
ResponderEliminarBeijos
Gostei tanto!!!!
ResponderEliminarBeijos
woooooowwwww Gábi. Deixaste-me sem palavras, a mim...
ResponderEliminarBeijinho :))
Obrigada, Pedro Coimbra :)
ResponderEliminarum beijinho
Obrigada Marina, por teres lido e pelas palavras :)
um beijinho
Obrigada David :) lembrei-me das tuas palavras a propósito do anterior texto, obrigada :)
um beijinho
Gábi