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No meu tempo tínhamos de crescer cedo. Quando eu tinha nove anos não sabia
nadar. O meu pai fartou-se dos meus medos, pegou em mim e atirou-me para o rio.
Disse‑me para fazer como os cães, que os homens é que são estúpidos e se
afundam, se batermos as pernas como os cães isso já não sucede. Não sei como
fiz, devo ter batido os pés, as mãos. Mal me vi em terra, apesar da roupa
molhada e ter engolido um balde de água,
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Aprendeste a nadar?
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Aprendi nada, mas nunca mais me deixei foi apanhar fosse por quem fosse perto
de água.
Rio
baixinho ao lembrar, mas rio sozinho. Ninguém fez a pergunta que julguei ouvir.
Ninguém me escuta ou presta atenção. Talvez nem faça sentido o que digo. Também
muitas vezes não entendo o que me dizem.
Sempre
gostei de conversar, tomar um café ao fim do dia, ouvir do que falavam em
redor, lançar às vezes uma acha para a fogueira.
Agora
falo sozinho. Confundem-se-me os tempos e os eventos. Reformei-me com os filhos
criados e encaminhados, íamos viajar, mas uma manhã a Ana não acordou. Passei
mal. Fui para o hospital, deram-me alta, mas fiquei preso do lado direito.
Pensei que iria viver para casa da minha filha, mas ela tinha a vida dela. O
meu filho também, e não podia ficar sozinho. Meteram-me num lar. Espaçaram as
visitas até não virem mais. Deixei de ter as minhas coisas, não posso nem
decidir a que horas me deito e levanto. E isto está cheio de velhos. Havia um
que berrava de repente e assustava-nos. Algo de que se lembrava e o fazia
zangar-se, mas já morreu.
Se
voltar a sonhar que o meu pai me atira para a água, vou me deixar afundar.
Buen relato el fina me impacto te mando un beso
ResponderEliminarÉ uma estória comovente e tem muito de verdade... Mas hoje não foi o melhor dia para a ler...
ResponderEliminarQuando era garoto tinha medo de morrer "fogado" na banheira :)))
ResponderEliminarBjs, bfds