segunda-feira, abril 20, 2020

Post 7447 - Desafio de Escrita - CNEC 20/48, 6/10 - o Espelho


Dormiam os dois quando algo a acordou.
Pensou se seria a sua imaginação, mas o som repetiu-se. Dir-se-ia passos no andar debaixo.
Pareceu-lhe que o seu coração lhe parava no peito e até respirar queria fazê-lo baixinho. Conseguiu que o marido acordasse. Segredou-lhe: “há alguém lá em baixo”. Justiça lhe seja feita o seu Fernando era um homem de acção e entrou logo em modo de alerta. Agarrou na bengala dela que empunhou e dirigiu-se para a porta do quarto entreaberta.
Fez-lhe sinal para que esperasse, mas como poderia? Apesar de estar sem a bengala, apoiando-se nos móveis seguiu-o. Ao quarto seguia-se o hall, parcamente iluminado pela luz que entrava pela claraboia. Logo a seguir as escadas. De baixo, talvez da sala, vinham os sons estranhos àquela hora. Alguém andava e abria uma gaveta.
Apesar de se querer silencioso, sob os pés do Fernando um dos degraus rangeu.
Ficaram os dois imóveis e quem estaria na sala também. Nada se ouvia.
Pesaram aqueles segundos até que o Fernando decidiu agir. Sem se preocupar mais com o barulho desceu os degraus que faltavam e ligou a luz. Da sala veio um homem que teria uma meia na cabeça. O Fernando e ele ficaram frente a frente.
- Eu saio e ninguém se magoa.
O Fernando assentiu. Pareceu que o homem se dirigia para a porta, mas pelo espelho da entrada ela viu que ele tirava uma faca do bolso do casaco. Não se teria apercebido dela e ia atingir o Fernando.  A aflição impedia-a de falar, mas conseguiu erguer o jarrão antigo oferecido pela tia Clara e deixá-lo cair sobre ele.
Caiu o homem e largou a faca.
Veio a polícia, levou o assaltante e voltaram para a cama. Antes de adormecer disse-lhe o Fernando que antes não gostava daquele jarrão.

18 comentários:

  1. Gostei o texto, Gabi, e o toque de humor desdramatizando
    a situação foi uma conclusão magistral.

    Boa semana.
    Beijinho
    ~~~

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    1. Corrijo: 'do texto'...
      Srrssssss...

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    2. Muito obrigada, um beijinho e uma boa semana também :)
      (depois de ter enviado o texto para o Desafio reparei que tinha repetido na mesma frase "antes" e já não dava para corrigir :( - às vezes as pontuações no Desafio não correspondem às minhas expectativas e comentários simpáticos aqui no blogue tornam-se ainda mais importantes :)

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  2. O jarrão podia ser feio mas afinal era útil.
    Não há mesmo bela sem senão.
    Beijinhos, boa semana

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  3. Ahahahha
    Continuas na temática... mas desta vez não morreu ninguém!
    :)))
    Não vou publicar o meu texto desta semana... não gostei muito dele...

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  4. Muito bom. Especialmente o toque final. Adorei.
    Abraço e uma boa semana

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  5. Gostei muito da história e também do final. Gosto de finais inesperados.
    Beijinho, saúde e boas escritas
    Dolores

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    1. Obrigada Dolores :)
      um beijinho, e também saúde e boas escritas

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  6. Um bom conto. Vá lá, viram se livres do ladrão e do jarrão, hahhaah :)
    -
    Arrepio na mente ...
    -
    Beijos e um excelente semana.
    "Vai ficar tudo bem"

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    1. :) se pudesse escrever mais palavras poderia ter concretizado que o jarrão era de louça e se partira em milhares de cacos :)
      um beijinho e uma excelente semana também

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  7. E eu com minha imaginação afiada, já construí toda a cena....Às vezes nem é necessário ter uma bengala na mão. Basta ser observador.

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  8. Por vezes certas coisas que não se gosta dão cá um jeito, ;)

    Ou será que o velhote da bengala combinou com um amigo para fingir aquele cena de assalto só para que o velhote se visse livre daquele jarrão horrível e não magoar e deixar triste a mulher?

    É que ter uma bengala e não dar com ela em cima do assaltante, preferindo o jarrão, dá que pensar, ;)
    .
    Cumprimentos

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  9. :) e quem disse que era um velhote? Afinal a bengala era dela e tinha de ser ela a resolver o assunto, claro :)
    um abraço

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  10. Adorei!

    No final, reflectiste aquilo que muitas vezes pensamos mas não verbalizamos :)))

    Beijinho

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