quinta-feira, janeiro 30, 2020

Post 7323 - Desafio de Escrita (47/19) - 3/10 A mensagem - Não há estrelas no céu




Não há mais estrelas no céu.
Acordara para o que pensara ser um dia normal. Quando tomava café ouviu o som da mensagem. Não foi ver logo, pensou que seria publicidade. Tomou primeiro duche, até para acordar de vez. Luz electrica ligada, a água quente a embaciar o espelho e o vidro da janela. Ainda não nascera o sol. Desligou por instantes de contar o tempo e levou com o choque da água fria. Pensou mais uma vez que teria de substituir o esquentador. Vestiu‑se, pegou nas chaves, no telemóvel e foi ver a mensagem:
“ACABOU!” 
Era da Lia.
Teve de se sentar. Faltou-lhe o ar, à sua volta tudo ficou escuro.
Mas não iam só dar um tempo? Ela precisava de espaço para se dedicar à tese. Palavras delas. Bem que ele desconfiara que seria outra coisa. Se calhar aquele colega, sempre tão simpático, fizera-lhe a cabeça. Ela dissera-lhe que estava a ser tolo. “O Jaime é casado”. Casado, pois sim. Às tantas, deixara a mulher para ficar com a Lia.
Voltou a ler a mensagem. Tinha sido enviada às sete da manhã. Eram quase oito. Ligou-lhe e como já previa, ela não atendeu. Foi para as mensagens. Ouviu o bip e desligou.
Decidiu que ia falar com ela em pessoa. Em piloto automático meteu-se no carro em direcção ao trabalho dela. Tudo lhe parecia cinzento e indistinto. Quando chegou, o Porteiro reconheceu-o e deixou-o entrar.
Subiu com um peso no coração que o deixava por dentro gelado e agoniado. Não conseguiu não pensar que seria a última vez que subiria aquelas escadas. Não ia implorar, até porque conhecendo-a, não adiantava.
Ela viu-o e veio ter com ele. Sorria e abraçou-o.
- “Mas e a mensagem”, disse-lhe, mostrando-lhe o telemóvel.
Ela olhou: “era para o Jaime, acabei a tese.”


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