Não há mais estrelas no
céu.
Acordara para o que
pensara ser um dia normal. Quando tomava café ouviu o som da mensagem. Não foi
ver logo, pensou que seria publicidade. Tomou primeiro duche, até para acordar
de vez. Luz electrica ligada, a água quente a embaciar o espelho e o vidro da
janela. Ainda não nascera o sol. Desligou por instantes de contar o tempo e
levou com o choque da água fria. Pensou mais uma vez que teria de substituir o
esquentador. Vestiu‑se, pegou nas chaves, no telemóvel e foi ver a mensagem:
“ACABOU!”
Era da Lia.
Teve de se sentar.
Faltou-lhe o ar, à sua volta tudo ficou escuro.
Mas não iam só dar um
tempo? Ela precisava de espaço para se dedicar à tese. Palavras delas. Bem que
ele desconfiara que seria outra coisa. Se calhar aquele colega, sempre tão
simpático, fizera-lhe a cabeça. Ela dissera-lhe que estava a ser tolo. “O Jaime
é casado”. Casado, pois sim. Às tantas, deixara a mulher para ficar com a Lia.
Voltou a ler a mensagem.
Tinha sido enviada às sete da manhã. Eram quase oito. Ligou-lhe e como já
previa, ela não atendeu. Foi para as mensagens. Ouviu o bip e desligou.
Decidiu que ia falar com
ela em pessoa. Em piloto automático meteu-se no carro em direcção ao trabalho
dela. Tudo lhe parecia cinzento e indistinto. Quando chegou, o Porteiro
reconheceu-o e deixou-o entrar.
Subiu com um peso no
coração que o deixava por dentro gelado e agoniado. Não conseguiu não pensar
que seria a última vez que subiria aquelas escadas. Não ia implorar, até porque
conhecendo-a, não adiantava.
Ela viu-o e veio ter com
ele. Sorria e abraçou-o.
- “Mas e a mensagem”, disse-lhe,
mostrando-lhe o telemóvel.
Ela olhou: “era para o
Jaime, acabei a tese.”
Bela técnica narrativa, gostei muito do suspense final!
ResponderEliminarAbraço
Muito obrigada Rosa dos Ventos :)
ResponderEliminarum abraço