A chuva batia forte contra os vidros da clarabóia e da janela. Escurecera e ninguém se admiraria que a qualquer altura começasse
a trovejar.
Em breve iria ter início a segunda e
esperava-se que a última sessão do julgamento do homicídio, pelo tribunal de júri.
Os quatro jurados tinham tentado de tudo
para ser dispensados. Nunca antes tinham vindo sequer a um tribunal, além do
desconhecido era um transtorno para o trabalho de três deles e estudos do
quarto.
A imediação que o caso conhecera nos
últimos dias levara-os a reponderar a sua posição. Sentiam a importância da
função. Só era pena que não recebessem o mesmo ordenado que os juízes.
A arguida estivera sempre calada.
Parecia uma concha vazia, depois de anos a levar pancada. Era mesmo
surpreendente como arranjara a força para dar um tiro no marido. Discutia-se se
existira ou não legítima defesa. Podia tê-lo deixado ou ter disparado para as
pernas ou peito, em vez do tiro na cabeça a lembrar uma execução sumária.
A Defesa pediu que fosse ouvido o filho
de dez anos e excepcionalmente o tribunal consentiu uma vez que não fora antes
indicado, e pela sua idade.
Pensou-se que poderia dizer algo em
abono da mãe. Falar pelo menos da violência doméstica de que esta fora vítima,
então apenas mencionada por dois vizinhos que ouviam gritos e a viam depois
magoada.
O garotinho entrou decidido na sala. A
mãe quando o viu mostrou pela primeira vez alguma emoção.
Apesar de lhe dizerem que se podia
sentar, quis permanecer de pé.
Numa voz infantil e no silêncio que
então se fez na sala, clamou então:
- Fui eu que o matei! Assim não bate
mais na minha mãe!
Depois…
Absolveu-se a arguida. O menor, tendo
menos de doze anos não foi acusado.
Gostei muito do escrito e ainda mais da atitude do menino.
ResponderEliminarBeijinhos
Muito bem escrito e na senda de várias sessões de tribunal que vimos na TV.
ResponderEliminarMães e filhos protegem-se mutuamente!
Abraço
Muito bom.
ResponderEliminarAbraço e bom domingo