Estava uma senhora
dentro do Roupeiro.
Viu-a meio de lado,
muito quieta.
Tinham vindo ficar em
casa da avó. O irmão bebe ficaria no quarto com os pais, mas ela ia ter um
quarto só para ela, o quarto das visitas. Tinha uma cama de ferro e um roupeiro
antigo em madeira, com portas que rangiam e um espelho amarelo nos lados a reflectir
a sua imagem, muito séria, mas não assustada, porque ela, ao contrário do
irmão, já era crescida.
Mas porque se lembrara
de ir espreitar o armário?
Era bom ou não tê-la
descoberto ali?
Muito quieta entre os
vestidos e casacos de Inverno da avó que cheiravam às bolinhas brancas de
naftalina que os protegiam das traças.
Dizia ou não à avó?
Mas quem seria a
senhora? E o que faria ali?
Primeiro só lhe
parecera estranho, mas agora à medida que escurecia e chegava a hora de ir para a cama começava a
preocupá-la.
Pouco comeu ao jantar a
sentir-se cada vez mais pequena e agoniada. Quase que a invejar o berço onde
dormiria o irmão.
Os pais a falarem de
assuntos sérios e chatos não se aperceberam, mas a avó, sim.
Veio ter com ela para
conversarem só as duas. E então à avó conseguiu contar.
Foram as duas até ao
quarto, a sua mão aconchegada na mão da avó. A avó acendeu a luz e abriu as duas portas do
armário. Desviou os casados e descobriu um velho manequim de madeira. Nele
pendurado um velho chapéu de senhora e enlaçado um lenço cinzento.
- “Esta é a Matilde”
contou-lhe a avó. “Foi feita para segurar os chapéus e guardar colares” E riram
as duas.
A avó ensinou-lhe que
podia inventar histórias e criar senhoras de cabides. Tudo podia acontecer
começando com: “Era uma vez…
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