sexta-feira, outubro 13, 2017

Desafio de Escrita 4/10 Fui


Fui a primeira a quebrar o silêncio. Perguntei-lhe se estava tudo bem com ele.
Não era isso que queria dizer.
Encontrámo-nos por acaso no aeroporto. Ambos tínhamos por perto familiares e nenhum dos dois quereria fazer uma cena perante eles.
Se quando nos vimos, a distância entre nós fosse só um pouco maior, poderíamos ter feito de conta que não nos tínhamos visto. Assim, a menos de um metro um do outro, ele a empurrar a mala de uma senhora de idade, a sua tia da Suíça, eu a levar um café para a mesa onde me esperava a minha prima Lia, não havia como nos evitarmos sem que parecesse demasiado evidente a má educação.
Ele respondeu “Bem, tu também?”. Não esperou pela minha resposta para dizer que tinham de seguir.
Fui ter com a Lia que tinha assistido ao nosso encontro. Concordou comigo quanto a ele estar mais magro e cinzento. Ela é que ia apanhar o voo. Eu tinha-lhe dado boleia. Já tinha feito o check-in e pareceu natural apressarmos a despedida.
Dirigia-me para o parque quando o ouvi chamar-me.
Parei até ele me alcançar um pouco sem folego. Também teria vindo para dar uma boleia à tia.
Já tens alguém, já me substituíste? Quis saber.
Não lhe respondi logo. Não quis saber por meu lado se ele já tinha alguém. Lembrei‑me da nossa história, como tão rapidamente os seus ciúmes e possessividade tinham tornado tudo tão amargo e difícil. Mesmo assim quando terminámos tinha doído e fora muito difícil não lhe ligar, não o procurar.
Ele leu no meu silêncio o que eu lembrava.
- Nunca me amaste, és incapaz de amar alguém! Exclamou.
Continuava o mesmo. Não iria mudar.
Respondi-lhe apenas “tenho de ir”. Afastei-me a pensar que parva fui.



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