Fez o que tinha a fazer:
Nada
Absolutamente nada.
Deixou-se ficar com a multidão
que se formava. Comentava-se que alguém tinha chamado a polícia. Ele não o fez.
Ninguém ao pé de si o fez também que ele visse. Alguns com telemóvel ligavam
para conhecidos a contarem o que sabiam e não sabiam.
Afinal o que é que tinha ouvido?
De que é que se apercebera?
Uns gritos, vozes altas de homem
e mulher, da mulher eram mais gritos. Primeiro o barulho chamou os curiosos,
depois começaram a recuar. Ele saíra após o jantar para tomar um cafezinho.
Estava perto do café quando ouviu gritos, passaram por ele primeiro os curiosos
apressados, ultrapassando-o, para voltaram a passar por ele depois a fugir.
Ouviu-lhes: “ele espetou-a”; “ainda tem a faca”.
Não era nenhum herói. Inverteu a
direcção e recuou com os demais.
Chegou a polícia, logo depois o
INEM. Os agentes arranjaram um cordão que rodeava o pátio onde ficava o café. O
Emílio, o funcionário que normalmente o atendia passou por ele, trocaram um
olhar, “e esta hein”. Não resistiu a perguntar-lhe: “mas quem são?”.
“ Eu, não os conheço, não devem
ser de cá”. Respondeu-lhe o Emílio encolhendo os ombros.
Ao pé de si os comentários iam
nessa onda, confirmavam que alguém tinha dito que não eram de cá. Divergiam se
eram turistas ou pedintes trazidos pelo verão.
O paramédico e o enfermeiro do
INEM entraram, levantando o cordão e pouco depois saíram. Ficaram cá fora a
falar com os agentes.
Um agente veio ter com eles,
trazia um caderno, queria registar a identificação das testemunhas. Ali ninguém
tinha visto nada. Só sabiam dos gritos.
Um mais afoito interpelou o
policia: “Então a mulher morreu?”
Respondeu-lhe este com ar aborrecido: “Mas que mulher, não ficou
lá ninguém, fugiram todos!”
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