terça-feira, março 28, 2017

Post 6117 - Livros 2017 (45, 46, 47, 48, 49 e 50) Abismo e outros contos de Jean Meckert, Growling for Mine e Paid For de Alexa Riley, Claimed de Laurann Dohner, Boomtown - Freebirds de Lani Lynn Vale e Tiger de Laurann Dohner

Abismo e outros Contos de Jean Meckert
Novas Espécies, Tiger de Laurann Dohner
Boomtown - Freebirds Lani Lynn Vale
Claimed de Laurann Dohner
Growling for Mine e Paid For de Alexa Riley

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Na contracapa:
"Jean Meckert (1910-1995) é uma figura rebelde das letras francesas e autor de uma vasta obra que se reparte por romances policiais (sob o pseudónimo Jean Amila), peças de teatro e guiões. Conheceu precocemente o desespero, e guardará da sua infância a repulsa pelo ensino religioso e a memória da fome. Apaixonado pela literatura, mas forçado a deitar a mão a todo o tipo de trabalhos precários, é no fim dos dias de trabalho extenuante que se dedica à escrita. Autor prolífico, guardou em cadernos escolares diversos contos inéditos, entre os quais os três que compõem este livro. Foi mobilizado em 1939, e a experiência da guerra viria a despertar nele um profundo antimilitarismo. A consgração chegaria em 1941 com Les Coups, obra aclamada por André Gide e Queneau, entre outros."
"Tenho a carapaça dura, já vi muita coisa. Mas, de repente, dei-me conta da minha responsabilidade nesta história. E talvez seja desde esse dia que sei o que é odiar, talvez seja esse dia que assinala o modo como consegui recompor-me,aquele em que encontrei uma força interior, uma razão de ser: a luta, a luta implacável contra a sociedade actual, contra este regime abominável, abjecto, que me fez matar um homem, por trezentos francos."
Prefácio do editor francês:
"Em "O Bom Samaritano, conto inédito do jovem Jean Meckert, um das personagens alistou-se no exército porque estava desempregado e "morrer de fome". São realidades dolorosas vividas pelo próprio autor nos anos 30, depois de uma infância já de si bastante penosa.
Nascido em Paris a 24 de Novembro de 1910, Jean Meckert foi separado da família e enviado, em 1920, para o asilo Lambrechets, uma instituição de origem protestante situada em Courbevoie. Meckert guardará desses quatro anos de orfanato uma repulsa pelo ensino religioso, a memória da fome e do frio, bem como um profundo sentimento de humilhação e de abandono.
Bom aluno, obtém o diploma do ensino primário e entre como aprendiz para uma empresa de construção de motores eléctricos. Após ter trabalhado algum tempo na fábrica, ingressa, em 1927, já como empregado de escritório, no Crédit Lyonnais, onde a mãe trabalhava como empregada de limpeza.
Vítima da crise de 1919, Jean Meckert perde o emprego e passa a alternar desemprego com pequenos trabalhos eventuais. Para escapar a esta vida de miséria, em Novembro de 1930 alista-se no exército por um período de dezoito meses. Colocado no campo de Satory, em Versalhes, será punido com várias penas de prisão por ausências injustificadas, mas ainda assim promovido ao posto de cabo pelo comandante da 5ª Companhia de Engenharia, responsável pelas infra-estruturas ferroviárias e pelas pontes.
De regresso à vida civil, em Maio de 1932, volta a cair numa situação de pobreza: "Era a época do grande desemprego dos anos 30", escreveria ele, "Já não havia trabalho, era preciso fazer tudo e mais alguma coisa para sobreviver". Meckert deitará assim a mão a todo o tipo de trabalhos, inclusivamente o de vendedor ambulante ao portão da fábrica da Renault.
O quarto de hotel sórdido onde vive então, em Belleville, torna-se a sua "última trincheira", o refúgio onde escreveria narrativas inspiradas na sua própria existência, designadamente três "contos" que copiaria cuidadosamente, em 1935, para um caderno escolar: "Um Crime", "O Bom Samaritano" e "Abismo". Três textos de juventude que pronunciam a obra futura, e em particular Les Coups, romance publicado pela Editora Gallimard em 1941, sob o conselho entusiasta de Raymond Queneau."
Pág. 29
"Lá fora, o ar gélido era capaz de atravessar três pares de mitenes. A sentinela quase dava cabo da guarita a bater os pés para se aquecer. Pela nossa parte, estávamos todos à volta do fogão, com pena do homem."
Pág. 47
"Estava com ar de nem o poder ver.
Então o chefe do posto, o matador de negros, dirigiu-se a ele com o cenho mais carregado do que nunca.
- O que se passou é que deixaste cair o capacete - disse-lhe ele baixinho.
- Como assim?! - exclamou o cabo, desconcertado.
- Já disse: caiu ao chão - continuou o sargento, olhando-o bem nos olhos.
- Mas...!
- Vamos, não estás a perceber.
- Há uma testemunha!
- Eu dou-lhe uma palavrinha.
- Mas...!
- Vá lá, não te armes em mauzão. Senão vais ter chatices de outra maneira. Entendido?
A seguir o sargento voltou para o seu canto, pousou no banco o púcaro, o litro do vinho que não tinha acabado, pão branco da messe e uma lata de patê que tirou do bornal.
- Vamos, come!  - disse ele ao vagabundo.
Depois foi de novo deitar-se na enxerga."
Três contos muito diferentes (o meu preferido foi o segundo) em que o narrador é personagem sobretudo no primeiro e no terceiro, tem uma actuação reprovável com consequências trágicas no primeiro (Um crime) presencia um acto admirável e surpreendente pela pessoa que o pratica, em O Bom Samaritano, e cai numa degradação claustrofóbica da qual consegue sair depois de um acto do maior desespero (O Abismo).
Muito bem escrito.  

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