terça-feira, março 21, 2017

Post 6103 - Terça-feira, 21.3.2017, Em cidade local de trabalho, "Poesia à mesa"

Egito Gonçalves
Sobre os poemas
Há poetas que constroem o mundo nos cafés,
outros que o fazem no claro-escuro
entre as prisões e os intervalos


António Aleixo
Os vendilhões do templo
Fazer bem não é só dar
Pão aos que dele carecem,
E à caridade o imploram,
É também aliviar
As mágoas dos que padecem,
Dos que sofrem, dos que choram

Olinda Beja
Quem somos?
continuaremos a plantar  café cacau
e a comer por gosto fruta-pão
filhos do sol e do mato
arrancados à dor da escravidão

Cláudia R. Sampaio
Tu sentado na praça
Comove-me esta imensa fila para se
chegar à ginja como se assim se chegasse
à verdade das coisas, aos braços tão curtos da solidão ibérica.
Comove-me a velha que sobe as saias em busca.
A juventude não vem

Joaquim Pessoa
Poema décimo nono
O poeta deve ser um conhecedor, um "maitre", aquele que cria
e dá a provar novos sabores, mais requintados uns que outros
Se não souberes cozinhar, não sirvas poemas a ninguém
Mais vale o jejum do que comida sem arte, nem tempero.

António Torrado
Sargo e parvo
Parvo, disse o sargo/ ao pargo. / Parvo, não. Pargo,
emendou o pargo.
Mas já a rede/ o puxava/ e  o levava/ do mar largo / para a costa.
Era mesmo parvo, /concluiu o sargo


Gonçalves, Egito - Os Arquivos do Silêncio, Lisboa: Portugália. 1963.
Egito Gonçalves nasceu em Matosinhos, em 1922. Começou a publicar livros de poesia na década de 1950. Esteve ligado a algumas revistas de poesia que fundou ou dirigiu. Poeta e tradutor, desempenhou um grande papel na animação cultural e literária do Porto. Foi um dos fundadores do Teatro Experimental do Porto.

Aleixo, António. Inéditos 1ª ed. Loulé: Vitalino Martins Aleixo, 1976
Antonio Aleixo nasceu em Vila Real de Santo António, em 1899- Foi um poeta popular português celebrizado hoje pela sua ironia e pela crítica social. É também recordado por ter sido um homem simples, humilde e semi-analfabeto que deixou como legado uma obra poética singular no panorama português da primeira metade do século XX

Beja, Olinda, Aromas de Cajamanga, São Paulo: Escrituras 2009. ISBN 978-85-7531-340-4
Olinda Beja nasceu em São Tomé e Princípe, em 1946. Poeta e narradora, publicou vários livros, nomeadamente, Bô Tendê? (poemas), 15 dias de regresso (romance) e Pé-de-perfume (contos). As suas obras têm sido objecto de estudo em várias universidades, nomeadamente no Brasil, Inglaterra, Alemanha, França, África do Sul.

Sampaio, Cláduia R. - Ver no escuro, Lisboa: Tinta-da-China, 2016, ISBN 978-989-671-303-4.
Cláudia R. Sampaio nasceu em 1981, em Lisboa. Em 2014 publicou o seu primeiro livro de poesia. Os dias da corja (Do Lado Esquerdo), seguindo-se A primeira urina da manhã (Douda Correria) em 2015. Desde então, tem colaborado em várias revistas e antologias de poesia. Vive em Lisboa com as suas duas gatas.

Pessoa, Joaquim - Guardar o fogo. (Moimenta da Beira): Esgotadas, cop. 2013 ISBN 978-989-8514--59-2.
Joaquim Pessoa nasceu no Barreiro em 1948. Poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica, publicou mais de 27 livros, nomeadamente "Ano Comum" e "O Poeta Enamorado". Foi premiado três vezes pela sua obra. Conta com mais de 600 recitais da sua poesia, realizados em Portugal e no Estrangeiro.

Torrado, António - Como quem diz, 2ª ed. Lisboa, Assírio & Alvim, 2007. ISBN 972-37-1046-9
António Torrado nasceu em Lisboa em 1939. Poeta, ficcionista, dramaturgo, autor de obras de pedagogia e de investigação pediográfica, é um contador de histórias por excelência. Tem mais de 120 livros publicados, onde sobressai a produção literária para crianças.

5 comentários:

  1. Eu escolhi a Florbela Espanca a definir o que é ser poeta.
    Beijinhos

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  2. Uma grande escolha, Pedro :)
    (eu limitei-me a copiar as escolhas da Semana da Poesia à Mesa em S. João da Madeira :)
    um beijinho

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  3. É só para deixar-te um beijo e agradecer o teu comentário, no Intervalo para Café.

    Obrigado mesmo!

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  4. De nada JLynce :) um beijinho também

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  5. Fico sempre deliciada, com a quantidade de verdades, que sempre jorram das palavras de António Aleixo...
    De qualquer forma, está aqui uma selecção fantástica...
    Bjs
    Ana

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