Depois da escola iam os
dois para casa (sempre gostou de contar esta
história aos filhos e aos netos).
Ele ajudava-a às vezes,
segurava-lhe os livros, mas só às vezes, na indiferença fingida do alto dos
dois anos de idade que os separavam, e não obstante estar sempre tão ciente de
que ela caminhava a seu lado. Ela falava muito, tentava cativá-lo com histórias
de colegas e professores. Ouvia a sua voz clara e fina, perdia-se nos sons, e
escapava‑lhe o sentido. Lá fora, o sol brilhava mais, afogueava-a nas faces
rosa, levava‑a a tirar o casaco e o seu perfume de lavanda rodeava-o. Deixava-a
à porta da casa dos pais dela, e continuava, porque a sua ficava um pouco mais
longe. Pesavam-lhe os seus passos enquanto se afastava, mas levava com ele o
seu perfume e presença.
Não disse à prima que
gostava dela, não o admitia para si mesmo, porque eram primos, porque era mais
velho dois anos, e naquela altura isso fazia dela uma miúda.
Os tios foram morar
longe e deixaram de se ver.
Passaram-se oito anos mas não a esqueceu.
Soube então que ela ia
regressar à cidade para continuar os estudos e a diferença de idade entre eles
parecia agora quase nada.
Encarregou-se de ir
esperá-la à estação.
Ainda era Verão e
estava um dia bonito em que o ar cheirava bem.
Foi para a linha do
comboio e viu-o chegar. Das carruagens começaram a sair multidões. Receou perdê-la
e pela primeira vez pensou que poderia não a reconhecer, até que a viu.
Continuava a ter faces rosadas. Ela também o reconheceu, veio ter com ele e abraçou-o.
Voltou a escutar a sua voz clara e fina, a perder-se em estar na sua presença,
mas soube quando a olhou, que ia haver um depois.
Está, como sempre, uma maravilha.
ResponderEliminarBeijinhos
Muito Bom, Gábi !!!
ResponderEliminarBeijo
Muito obrigada aos dois por lerem e pelas palavras :)
ResponderEliminarum beijinho
Muito bonito :)
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Muito obrigada LopesCa :)
Eliminarum beijinho
Adorei o texto... e feliz pelo depois... reservado às duas personagens...
ResponderEliminarUma vez mais parabéns pelo talento e criatividade!
Beijinho
Ana