Não
acredito em bruxas, ou antes, não acreditava até Outubro do ano passado.
Os
vizinhos do 4º andar venderam o apartamento e mudaram‑se para casa da filha. Um
par curioso, a senhora gostava de falar, tinha sempre algo a contar sobre os
vizinhos, mesmo quando deixou de os ter, e o marido era surdo a tudo que não
lhe interessava, como aquelas conversas. Ficava-lhes com o gato quando iam de
férias.
Eramos
os últimos resilientes, no prédio e no bairro.
Pouco
a pouco o quarteirão esvaziava-se da vida com que tinha crescido.
Os
prédios velhos apodreciam vazios, cresciam tijolos nas janelas, cadeados cerravam
as portadas de madeira.
No
princípio, não me importei muito
Durante
o dia saía para trabalhar, muitos fins-de-semana e noites ficava em casa da Mia
com quem namorava.
Por
essa altura aborreci-me com a Mia, ou ela zangou-se comigo e separámo-nos.
Custou-me
a adormecer na primeira noite, sozinho, no apartamento.
Quando
finalmente caia no sono, ouvi algo e percebi que era um miar. Meio desperto
levantei-me, abri a porta e estava lá um gato que me pareceu o Fifi da vizinha.
Ensonado como estava não me lembrei que já lá não estavam e resolvi levar‑lhes
o gato.
Subi
até ao 4º andar. Quando bati à porta, ela abriu-se.
A
casa estava diferente, e pela janela entreaberta a luz traçou a silhueta da mulher
mais bela que alguma vez vira. O gato saltou-me dos braços e foi ter com ela.
Não era o Fifi.
Passei
a noite com ela, ali, mas no dia seguinte acordei gelado nas escadas do prédio,
à porta do 4º andar que estava firmemente fechada.
Não
conseguia recordar-me do que tínhamos falado ou o que tínhamos feito.
Mudei-me
naquele mesmo dia. Fiz as pazes com a Mia e nunca lhe contei sobre aquela
noite.
Um conto muito bem imaginado e escrito ! Gostei !
ResponderEliminarAntigamente tinhas uma forma de escrita, com idêntico teor, mas com "apresentação escrita" algo densa, compacta, que desmotivava um pouco.
Noto que corrigiste esse aspecto e agora, olhando-se para o texto, a sua leitura, independentemente do conteúdo, fica mais apelativa à leitura !
O conto, muito curioso ! :) ... Será que foi um sonho ?... Teria ele adormecido sentado nas escadas junto ao 4º andar ?... Seria a tal "bruxaria" ?...
Fica à disposição de cada um a sua interpretação ! :)
Beijinhos, Gábi
Rui, muito obrigada por leres e pela crítica (estava a diminuir a apresentação por ter uma limitação de palavras, mas é algo que devo considerar mesmo quando possa escrever mais)
ResponderEliminarum beijinho e muito obrigada :)
Repara que eu não me referia ao nº de palavras, mas sim à "densidade" em termos puramente visuais.
EliminarSe olho para um texto sem mudanças de linha e sem parágrafos, ele torna-se demasiado "compacto" à vista e fica mais "cansativa" a leitura, o que não acontece se houver muitas (suficientes) mudanças de linha.
Tudo isso, independentemente do conteúdo do conto ou do texto, que isso claro tem uma importância distinta.
Este está muito agradável à vista e apela à leitura !
Beijinhos, Gábi e estás de parabéns ! :)