quarta-feira, junho 01, 2016

Post 5671 - 3/10

Orgulho, vaidade, despeito, rancor, tudo passa, se verdadeiramente o homem tem dentro de si um autêntico sonho de amor. 

Teve todos os defeitos do mundo e ainda inventou outros.
Transformou o medo que escondia em raiva.
Desprezava os mais fracos, orgulhava-se de ser temido.
Enorme rancor o movia contra os que se apresentavam como mais fortes.
Não descansava enquanto não os amachucava
Envaideciam-no essas vitórias vazias.
Com as mulheres, entusiasmava-se e decepcionava-se rapidamente.
Sabia que o que realmente o apaixonava era a conquista.
Gostava de mulheres que o desafiavam, que sabiam esconder-se e desvendar-se, capazes de representarem o jogo do flirt como se sentissem o que lhes dizia e o que lhe respondiam.
À primeira suspeita que poderiam estar a convencer-se que tinha um futuro juntos, deixava-as. Fugia tão depressa que nem chegava a ver se de verdade as magoava, se apenas lhe deixava o orgulho ferido pelos seus projectos frustrados.
Um dia pensou em casar-se e escolheu uma mulher que acreditava assemelhar‑se‑lhe, por se guiar pela razão, por não fingir emoções que não sentia.
Só descobriu mais tarde o que ela escondia.
Não lhe perdoou ter-lhe ocultado que o queria mudar. Ela odiava-o por não o ter conseguido.
Quando pensava divorciar-se, ela revelou-lhe estar grávida.
Sentiu-se preso. Nem sabia se o filho era seu. Lembrava-se vagamente de terem dormido juntos numa noite em que tinham discutido e se tinham embriagado e voltado a discutir e a beber até adormecerem.
Nasceu uma menina e pouco depois ela deixou-os.
No embaraço daquele abandono, começou a ocupar-se do bebé.
Não se parecia com nenhum dos dois. Era linda. Cada dia mais. Esperta e engraçada.
Cresceu-lhe o orgulho pela menina e esqueceu ter duvidado da paternidade.
Pela primeira vez começou a amar alguém mais do que a si mesmo, a sua filha.



Sem comentários:

Enviar um comentário