Orgulho,
vaidade, despeito, rancor, tudo passa, se verdadeiramente o homem tem dentro de
si um autêntico sonho de amor.
Teve todos
os defeitos do mundo e ainda inventou outros.
Transformou
o medo que escondia em raiva.
Desprezava
os mais fracos, orgulhava-se de ser temido.
Enorme
rancor o movia contra os que se apresentavam como mais fortes.
Não descansava
enquanto não os amachucava
Envaideciam-no
essas vitórias vazias.
Com as
mulheres, entusiasmava-se e decepcionava-se rapidamente.
Sabia
que o que realmente o apaixonava era a conquista.
Gostava
de mulheres que o desafiavam, que sabiam esconder-se e desvendar-se, capazes de
representarem o jogo do flirt como se sentissem o que lhes dizia e o que lhe
respondiam.
À
primeira suspeita que poderiam estar a convencer-se que tinha um futuro juntos,
deixava-as. Fugia tão depressa que nem chegava a ver se de verdade as magoava,
se apenas lhe deixava o orgulho ferido pelos seus projectos frustrados.
Um dia pensou em
casar-se e escolheu uma mulher que acreditava assemelhar‑se‑lhe, por se guiar
pela razão, por não fingir emoções que não sentia.
Só descobriu mais tarde
o que ela escondia.
Não lhe perdoou ter-lhe
ocultado que o queria mudar. Ela odiava-o por não o ter conseguido.
Quando pensava
divorciar-se, ela revelou-lhe estar grávida.
Sentiu-se preso. Nem
sabia se o filho era seu. Lembrava-se vagamente de terem dormido juntos numa
noite em que tinham discutido e se tinham embriagado e voltado a discutir e a
beber até adormecerem.
Nasceu uma menina e
pouco depois ela deixou-os.
No embaraço daquele
abandono, começou a ocupar-se do bebé.
Não se parecia com
nenhum dos dois. Era linda. Cada dia mais. Esperta e engraçada.
Cresceu-lhe o orgulho
pela menina e esqueceu ter duvidado da paternidade.
Pela primeira vez
começou a amar alguém mais do que a si mesmo, a sua filha.
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