quarta-feira, junho 01, 2016

Post 5670 - 2/10

A casa é sempre o centro e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo.

Quando éramos crianças em viagem,
De visita aos avós dos dois lados,
para Lisboa, a capital,
ou Argozelo, a aldeia,
a nossa mãe levava com ela a casa.
Concertava dentro das horas, as refeições,
Arranjava a cama onde dormíamos
Bebíamos o mesmo leite em canecas ou chávenas distintas
Adormecíamos rodeadas por espaços e sons diferentes
Sentíamos o estremecer das paredes, pelo que se passava lá fora,
Olhando tectos altos pintados,
Ou acordávamos com o cantar do galo,
No quarto com chão de tábuas compridas,
Podíamos aventurar-nos em descobertas,
Descer entre passeios para grutas escuras e apanhar o comboio-metro,
Subir com a burrinha, por ruas desarrumadas até campos com cheiro a esteva,
Tudo porque a sabíamos por perto, a olhar por nós
 Muitos anos depois, ouvi o meu primeiro amor
Dizer, “está tudo bem”, apenas porque estava ali
Soube que me tornara a sua casa, e ele a minha
 Quando se foi, fiquei sem chão e sem abrigo
O mundo surgiu imenso, feio e vazio
Até conseguir ver de novo outras casas
E ser também casa de mim própria


Sem comentários:

Enviar um comentário