Não
era a primeira vez, nem seria a última com certeza, que acreditava ter visto
alguém que conhecia, para descobrir depois um desconhecido, pouco ou nada
parecido, mas era capaz de jurar que tinha visto o Luís, o seu primeiro
namorado, no corredor mais ao fundo
Não
tinham tido nada sério, e eram tão jovens que se tinham simplesmente afastado
quando o verão terminou.
Não
foi capaz de sair com aquela dúvida, mesmo já tendo tudo o que queria comprar, e
quis confirmar se era ele, encetando quase uma corrida, com o carrinho das
compras, apenas travada pelas pessoas que enchiam o supermercado, naquela noite
de sexta-feira.
Não
queria desistir, apesar de não conseguir encontrá-lo e até pensou se ele teria
passado por ela e ido para a zona das caixas, mas é então que o vê, de costas
para onde ela estava, de frente para o balcão da charcutaria.
Não
hesitou e tocou-lhe no ombro para lhe chamar a atenção, no meio da confusão de
pedidos: “Luís”.
Não
era ele, pensou primeiro, quando ele se virou, mas depois apercebeu-se que era,
sim, apesar de mais velho dez anos, que nele pareciam vinte.
“Não
podes ser tu, Ana?” disse-lhe ele enquanto a abraçava.
Não
conseguiu evitar pensar se também notaria nela como os anos tinham passado,
esperando que pelo menos não lhe parecesse, que em dez anos tinha envelhecido
vinte.
Não
se largaram o resto da noite, jantaram e ficaram a conversar quase até à uma da
manhã e só se despediram depois de trocarem contactos e com a promessa de se
voltarem a ver em breve.
Não
iam voltar a estar juntos, mas continuavam a guardar com carinho a recordação
de um tempo em que tinham sido felizes, um com o outro, e com o mundo.
Com frequência a felicidade aconteceu no passado... e com frequência já não volta.
ResponderEliminarPimenta e ouro.
O melhor será tê-la no presente
Eliminarum beijinho
Mais uma recordação agradável :)
ResponderEliminarBlog LopesCa | Facebook
E um exercício de escrita :)
Eliminarum beijinho
Há pessoas e circunstâncias que estão melhor no passado mas que não fazem mossa se cruzarem o nosso presente. No entanto, a ter reencontros com o passado, antes um passado que nos traga sorrisos como neste texto ;)
ResponderEliminarBeijinhos
Completamente de acordo e agora lembrei-me do conto de Natal de Charles Dickens, dos fantasmas que o visitavam, do Natal passado, do Natal presente e do seria o Natal do futuro :)
Eliminarum beijinho
Acreditas que já me aconteceu precisamente isto, sem a parte do jantar? Apenas um boa conversa para matar saudades e um «até sempre» como se o passado fosse já ali...
ResponderEliminarA realidade a copiar a ficção ou a ficção a copiar a realidade, à excepção do jantar :) (a mim não me aconteceu, mas como sou míope podia estar a passar mesmo ao lado e nada ver :)
ResponderEliminarUm tema interessante, muito bem escrito e "apresentado" (o que permite uma leitura agradável à vista, que é importante), natural, sem qualquer tipo de exageros !
ResponderEliminarEstou a gostar da tua maneira de escrever, Gábi !
Beijo ! :)
Muito obrigada, Rui, por teres lido e por comentares, as tuas palavras são um óptimo incentivo para continuar a escrever e têm muita importância para mim
Eliminarum grande beijinho
Gábi
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar