Pediu ao Luís que levasse a carta para
o jantar de despedida. Cansou-se de dizer que não queria um jantar desses, mas
não adiantou. Tinha passado por tantos que os via de olhos fechados. Reservavam
mesa no mesmo restaurante, escolhiam a mesma ementa. Iam chegando após a hora
marcada, esperavam uns pelos outros cá fora, enquanto fumavam um último cigarro
e continuavam as conversas do dia. Depois, a animação ia crescer com as
garrafas de vinho que vinham para a mesa. O chefe discursava e entregava a
prenda, poderiam discursar mais um ou dois e o homenageado fá-lo-ia no fim,
quando os mais velhos ou mais casados já só queriam era que tudo terminasse
para irem para a casa, e os mais novos partilhavam o desejo, mas não o destino,
já combinados os encontros que teriam depois em bares.
Escreveu a carta com todo o cuidado,
porque não queria esquecer-se de nada, nem de ninguém, queria deixar uma
mensagem:
“Caros colegas
Hoje sou eu, amanhã sereis vós.
Dediquei todos estes anos à empresa,
cinquenta anos.
Pela empresa fracassei em dois
casamentos, não conheço nem convivo com o meu único filho, perdi os poucos
amigos que tinha.
Tudo porque não estava lá quando
precisavam de mim.
Deixei que o trabalho me consumisse.
E agora que sou um velho sozinho,
incapaz de com rapidez assimilar as novas tecnologias, fui prontamente
substituído.
Vou ter de sobreviver só e com uma
misera pensão.
Não deixem que vos aconteça o mesmo!”
No dia marcado, foi para lá o Luís
encontrar-se com os outros. Cá fora, enquanto esperavam, comentaram o insólito
daquele encontro sem o homenageado. Durante o jantar, no mesmo restaurante, com
a ementa de sempre, continuaram as conversas do dia, vieram as garrafas de
vinho, cresceu a animação, e o Luís esqueceu-se da carta.
O convívio faz esquecer o infortúnio, sobretudo o alheio!
ResponderEliminar(quando os mais velhos ou mais casados...) Não percebi esta parte, Gábi!
Gostei da moral da história. Muito bem escrita e descrita.
Beijinhos e boa semana.:)
Obrigada Janita :)
Eliminar(os mais velhos ou mais casados queriam ir para casa descansar ou estar com as mulheres enquanto os mais novos queriam ir para bares talvez para iniciarem algum romance :)
um beijinho, obrigada e uma boa semana
Gostei muito desta história, Redonda. Prendeu-me a atenção até ao fim. ;)
ResponderEliminarObrigada Gina :)
Eliminarum beijinho
Interessantíssima esta história. Percebes agora porque não levo a vida demasiado a sério? Por vezes o trabalho absorve-nos de tal forma que esquecemos que existe vida para além do trabalho!
ResponderEliminarBeijinho Gábi!
Parece-me importante o equilíbrio, ter trabalho, ter família, ter amigos, etc.
Eliminarum beijinho
Gábi:
ResponderEliminarUm texto que nos faz pensar sobre as relações sociais e profissionais.
Muito bem escrito e cativante.
Um beijinho
Fê
Obrigada Fê, por teres lido e pelo incentivo :)
Eliminarum beijinho
Deve haver tantos com vontade de fazer isso. Eu tive um tio assim, mas ao menos conhece mais ou menos o filho e manteve a mulher. Trabalha das 8h às 24h e ao fim de 30 anos mandaram-no para a rua!
ResponderEliminarEscreves bem ;)
Bjs
Obrigada MAG :)
Eliminarum beijinho
Tantas pessoas com vontade de escrever cartas destas! Só que não deviam esquecê-las!
ResponderEliminarEste texto é para um desafio de escrita, fiquei a pensar se haverá o hábito de se escrever uma carta, um jantar com discurso pareceu-me mais normal.
ResponderEliminarAdorei o texto, principalmente por nos fazer refletir!
ResponderEliminarBeijinhos grandes
Obrigada Chic'Ana :)
Eliminarum beijinho
O Luís esqueceu a carta e caminhou para um destino igualmente vazio de vida e cheio de trabalho...
ResponderEliminarBeijos, Gábi :)
Ou ganhou o euromilhões e mudou-se para uma ilha tropical levando a carta com ele :)
Eliminarum beijinho
Veio bem a calhar essa história aqui em casa. Até chamei o marido para ler. Explico-me, estamos às vésperas de que ele seja demitido, a notícia já correu a boca pequena nos corredores. E por mais que nos assuste a possibilidade do desemprego e a dificuldade para encontrar uma outra colocação nos próximos meses, o lugar em que ele trabalha sugou tudo o que ele tinha de alegria, saúde e tempo livre. Quase não nos vemos, pois ele trabalha de domingo a domingo e tantas outras coisas que nos fazem deixar de viver para apenas trablhar, trabalhar, trabalhar. Enfim, mas ele disse aqui: não me esquecerei da carta! ahahaha
ResponderEliminarUm beijo
Gostei muito de saber que o meu texto foi também lido por ele e que falaram sobre ele - espero que ele não vá ficar desempregado ou que arranje rapidamente outra colocação que o deixe com tempo para estar também com os outros
Eliminarum beijinho e obrigada pelas palavras
Gábi
Para viver com algum equilíbrio teremos que conseguir perceber que o trabalho não é tudo, esta é uma ideia que eu e o meu falecido marido sempre conseguimos perceber e pôr em prática, vivermos cada momento os dois, com as filhotas e até com amigos, depois dele partir dei continuidade a essa ideia, simplesmente porque as pessoas que amo são tudo o que tenho.
ResponderEliminarBeijinho Gabi
É o que me parece importante também, o equilíbrio e o lembrarmos o que é importante
Eliminarum beijinho
Fiquei presa à história do princípio ao fim, Gábi!
ResponderEliminarQue pena que a carta não foi lida. Que pena!!! Queria muito que tivesse agitado aqueles jantares sempre tão iguais! :-)
Tenho um desafio para ti no meu blog!
Beijinhos!
Obrigada MariaXL :)
Eliminarvou já espreitar o desafio
um beijinho
É tão fácil esquecer as desgraças dos outros, Gábi.
ResponderEliminarBeijinhos
Bem, ele não sabia ainda o que estava na carta, acho que se esqueceu mais devido às garrafas e à animação na mesa :)
ResponderEliminarum beijinho
Acho que foi melhor assim :)
ResponderEliminarBlog LopesCa/Facebook
Pelo menos para a animação da noite :)
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