terça-feira, fevereiro 09, 2016

Post 5448 - 09/10 A história dela

          No interior de um comboio, uma mulher olha, com um sorriso distante, pela janela.
O seu olhar não se fixa na paisagem que corre perante si: campos cor-de-terra, poucas casas., nem nas gotas de chuva que escorrem pela janela, muito menos no reflexo do seu rosto iluminado no vidro quando passam por um túnel. Apercebe-se então que estava a sorrir.
Quinze anos de casamento, depois de três de namoro, com o primeiro e único namorado. Uma vida. O que não impediu o Rafael de decidir que estava apaixonado por outra e sair de casa. Talvez fosse a crise dos quarenta e ela foi apanhada no meio, sem contar.
Primeiro pensou que se tivessem tido filhos seria diferente, mas percebeu depois que nada conseguiria alterar o egoísmo dele.
Faltou-lhe o chão.
Olhando para trás, a sua vida até essa altura, aparecia-lhe como tendo sido fácil e previsível.
Tinha saído da casa dos pais para morar com o marido. Havia vários afazeres que deixava para ele, desde mudar uma lâmpada a tratar dos impostos e seguros. 
Teve de se virar sozinha e conseguiu-o. Era ainda uma mulher bonita, ou melhor, interessante. Vestia-se bem, herdara a elegância da mãe e tinha um trabalho com prestígio para se ocupar.
A certa altura resolveu – e essa opção surgiu-lhe por oposição ao passado, como uma verdadeira escolha – envolver-se com um colega de trabalho, um amigo e sedutor, por quem não pensara estar apaixonada e muito diferente do marido. Redescobriu a paixão e encontrou uma verdadeira intimidade.
E agora o Rafael quer voltar.
Com o mesmo ar trágico que lhe comunicou o grande amor que sentia por outra, diz-se agora arrependido do grave erro que ia cometer.
Acreditava que ela o ia receber de braços abertos.
Soube-lhe bem dizer-lhe não.
Sentiu-se segura na nova vida que escolheu.




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