Luzes de presença em
jogo de sombras, no silêncio meio interrompido pelos passos abafados de solas
de borracha.
O som das campainhas
substituído nos corredores pelas luzes vermelhas sobre a porta dos quartos.
Não se ouvem gritos. Palavras,
gemidos e medos estarão contidos nos quartos.
O tumor foi detectado
num exame de rotina. Nem teve tempo de pensar enquanto tratava dos assuntos
prementes, a substituição no trabalho e o internamento. Chegou de manhã em
jejum. Vestiu uma espécie de bata. Raparam-lhe a barriga. Levaram-no para a
sala fria da cirurgia onde perdeu consciência e caiu num sono pesado como não
se lembrava de alguma vez ter tido. No recobro, perguntaram-lhe o nome e
levaram-no de volta ao quarto. Era preciso esperar pelos resultados do laboratório
e investigar se haveria metástases noutros órgãos.
Dor dormente graças à
droga que lhe tinham dado, mas desperto, deu-lhe para pensar na vida. Ateu
convicto, pela primeira vez confrontado com a sua mortalidade, não conseguia
descansar. Levantou-se da cama, agarrado ao soro, saiu para o corredor e
sentou-se perto de uma janela.
Apercebeu-me que
alguém se sentava ao seu lado. Mais tarde não seria capaz de o descrever, sem
dúvida pelo seu estado.
- De que tens medo,
Pedro?
Estranhou que soubesse
o seu nome, mas respondeu-lhe:
- Do fim. Ainda tenho
tanto para fazer.
- Não vai ser agora,
tens muitos anos à tua frente, mas devias repensar o que tens para fazer, o que
é realmente importante.
- Como o que é
realmente importante?
- Tens vivido para o
trabalho, os teus pais já morreram, não tens mulher, filhos ou amigos íntimos,
nada costumas fazer pelo teu próximo.
Pedro sentiu-se de
repente cansado. Regressou ao quarto sem se despedir.
No dia seguinte
apresentou queixa contra o Emanuel mas ninguém soube dizer‑lhe quem era.
Gostei muito!:)
ResponderEliminarObrigada MariaXL :)
ResponderEliminarhoje estava a precisar de um incentivo :)
um beijinho
Muito bom Gábi. Gostava de dizer que só te critico construtivamente porque sei que do outro lado está uma grande escritora, caso contrário não o faria. Gostava que um dia te libertasses da ficção e escreves algo pessoal sobre ti, de forma sintética e introspectiva.
ResponderEliminarBeijinhos :)
Eu sei David (quanto à crítica construtiva) e por isso dou muito valor às tuas críticas - escrever e "publicar" aqui, gostaria que fosse uma forma de melhorar como escrevo e é por isso que aprecio muito a ajuda que me dás, lendo e dizendo-me o que pensas
ResponderEliminar(já quanto à grande escritora, para já, ainda não me qualifico como escritora sequer pequenina :) e sobre o escrever algo pessoal, David, às vezes é como um jogo colocar algo de mim em alguns dos textos - e tenho um diário chato ou vários diários - ainda guardo o que comecei aos 10 anos :)
um beijinho e obrigada