Faltou tentar o
impossível.
Lançar-se do cimo de um
arranha-céus e chegar ao chão incólume.
Enfiar-se no meio de
dois duelistas, sentir o fio das suas espadas e sobreviver sem qualquer ferida.
Atravessar uma casa em
chamas sem arder.
Chegar ao pé da Clara e
dizer-lhe: gosto de ti.
Ao invés, quedava-se
mudo ou gaguejava só em pensar no que lhe diria.
Era o seu primeiro amor
e ninguém sabia, escondia de todos o fogo que o queimava por dentro e a
vergonha da sua cobardia.
Um dia, se ao menos um
dia, pudesse ser outro.
Teve então a má ideia
de pedir ao Rafael que lhe escrevesse uma carta para ela. Confiou naquele que
acreditava ser seu amigo. Ele lançou para o papel frases bonitas mas que
ficavam muito aquém de tudo o que sentia. Terminava com a pergunta mais importante,
se ela corresponderia, se o quereria para namorado.
No dia seguinte a
enviar a carta, começou o seu pesadelo.
Clara procurou-o, num
intervalo, olhou-o com os seus olhos de céu numa interrogação muda. Esperava
talvez que ele lhe dissesse de viva voz o que estava escrito, ao menos, que
repetisse que gostava dela e a pergunta com que concluía.
Ele que não conseguiu
dizer-lhe nada, fugiu.
Mais tarde, viu-os
juntos, demasiado juntos, e outros disseram-lhe que eles tinham começado um
namoro, que durou dias.
A Clara encontrara o
verdadeiro autor da carta e teria acreditado nas suas frases vazias. O Rafael,
falso amigo, nunca antes tinha reparado nela.
A dor da dupla traição
varreu-lhe a timidez.
No recreio, bateu no
Rafael e empurrou a Clara.
Foi chamado ao Director
e repreendido.
Naquele ano não quis
mais saber de raparigas embora tivesse voltado a falar com o Rafael.
No ano seguinte,
arranjou uma namorada que não era a Clara.
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