segunda-feira, março 09, 2015

Post 4639 - 1ª/2ª Tentativa de escrever um Conto Erótico - Primeiro Amor

Primeiro Amor

Com dezassete anos Anya já sabia que não existia o amor. Não passava de uma invenção para seduzir mulheres ingénuas e vender livros de romances. Existia a paixão e a amizade, e um jogo de sedutores e iludidos, em que apesar de toda a evolução nos costumes, os homens queriam acumular conquistas e as mulheres arranjar um marido.
Tinha planeado o seu futuro, continuar os estudos, licenciar-se, começar a trabalhar, ser independente, ter bons amigos e viajar. Não pensava constituir família, talvez um dia ter um filho, um marido definitivamente, não.
A sua forma esclarecida de pensar adviera-lhe dos livros que sempre encontrara acessíveis e sem censura, em casa e nas bibliotecas.
No entanto, nos últimos tempos, começara a sentir-se ultrapassada por algumas colegas. As mesmas que olhava antes com alguma superioridade porque se envolviam em namoricos dizendo-se apaixonadas. De repente, essas colegas tinham experimentado na prática aquilo que ela apenas conhecia dos livros e Anya detestava essa sensação de estar a ficar para trás, de ignorar o que para as outras era básico. Foi por isso que decidiu passar também pela prática, ter uma experiência que lhe desse esse conhecimento e deixar a questão arrumada.
Sabia que era bonita e desejável pelos piropos e olhares com que apanhava desde os onze anos, ainda nem tinha peito. Clara de pele, olhos e cabelos castanhos, feições correctas, alta para a média, e magra.
Não queria escolher um dos homens mais velhos que paravam para a olhar, pareciam-lhe vagamente repulsivos e assustadores. Queria uma situação que pudesse controlar, ter o comportamento que  muitos consideravam próprio do género masculino, ter uma única experiência, sem ligações emocionais e sem repetições.
Lembrou-se de um colega do liceu, o Filipe. Era dos bons alunos, bom também no desporto, mas não dos extrovertidos e populares, antes alguém que aqueles incluíam no seu grupo e respeitavam.
Nunca tinham trocado uma palavra. Se com os outros já não falava muito, com ela parecia não ser capaz de dizer nada. Uma vez, num intervalo sentara-se mesmo ao seu lado, quando muitos outros lugares estavam livres. O que confirmou o que ela suspeitava. A sua incapacidade de falar com ela, o ter-se vindo sentar ao seu lado, sucediam porque a achava gira.  
Planeou todos os detalhes. Um dia em que apenas tinham aulas de manhã, interpelou-o quando saíam da escola. Perguntou-lhe se não queria estudar com ela para um teste. Ele aderiu logo. Tinha olhos azuis escuros e era alto. Olhá-lo, descobrir a cor dos olhos dele em que antes não reparara - tinha pensado que eram castanhos - fez com que se sentisse um pouco insegura, mas disfarçou. Tudo começava a parecer muito real.
Combinaram ir para casa dele porque morava perto.
Para se manter no controle da situação, foi conversando com ele sobre a matéria que tinham de estudar. Quando o interpelava, também ele parecia levemente nervoso, mas respondia-lhe de forma assertiva, mostrando que dominava a matéria. Devia estar convencido que o que ela queria era mesmo estudar, preparar-se para o teste.
Chegaram rapidamente a casa dos pais dele, ele morava mesmo perto, a poucos metros da escola. Uma casa bonita, com gradeamento e jardim. Ele abriu o portão e depois a porta, explicou-lhe que os pais apenas voltavam ao final do dia e  iria só dizer à empregada que tinha chegado. Ela pensou, caramba deves ser rico, ou antes, os teus pais, com esta casa e empregada, mas que não deixaria que isso a intimidasse.
Ele perguntou-lhe se iria querer comer alguma coisa, disse-lhe que poderiam ir para a sala, e ela interrompeu-o para lhe dizer que preferia o quarto, para não serem interrompidos.
Subiram as escadas, e entraram no quarto dele.
Surpreendeu-a que estivesse bem arrumado. Havia só alguma roupa sobre a cama e ele corou e enfiou-a num armário. Tinha uma secretária e uma estante com livros, mas ela sentou-se na cama. A persiana estava meio descida como protecção do sol do início da tarde. Ela tinha um vestido curto e sentiu a frieza da colcha nas pernas quentes do sol lá fora. Olhou para ele, Parecia mais alto por estar de pé, tão perto, com ela sentada. Fez-lhe um gesto para que se sentasse ao seu lado, e ele fê-lo.
Parecia-lhe meio espantado. De novo, ele ficou em silêncio, não saberia o que dizer. Anya também não sabia muito bem o que fazer ou dizer. Estavam muito perto. Sentia o calor que vinha do corpo dele, o cheio de transpiração num corpo limpo. Resolveu beijá-lo, torcendo para que ele não se desviasse ou chocassem. Foi-se aproximando, olhando-o nos olhos e só fechou os seus segundos antes dos seus lábios tocarem nos dele. Eram macios e quentes e o seu hálito sabia a morango de pastilha elástica. Anya pensou se os seus saberiam à sandes de fiambre e à maça que tinham sido o seu almoço. Foi o seu primeiro beijo na boca.
Voltou a olhá-lo nos olhos, parecia agradado com o que estavam a fazer, interrogou-se sobre ele teria correspondido ao seu beijo, quando ele tomou a iniciativa e a beijou, e entreabriu os lábios. Beijar assim até era bom.
Parou-o para tirar o seu vestido pela cabeça, ficando de sutiã e calcinhas rosa, escolhidos de propósito para a ocasião. Olhou-o em desafio e ele rapidamente tirou a tshirt, parecendo nunca ter deixado de a olhar enquanto o fazia.
Era mais branco do que pensara, nos braços notava-se os músculos e a marca do sol até à manga curta, delineava-lhe o torso. Apesar do calor lá fora, no quarto estava fresco e procurou abrigo no aconchego quente dos seus braços. Sentia-se dividida em duas, uma beijava, era beijada, abraçada, tocada e tocava, a outra como que observada o que se passava e pensava, será que é assim, será que é agora. Ele não conseguia abrir‑lhe o sutiã e foi ela que o fez, ele tirou as calças de ganga e ficou de boxers, tinha pernas fortes e com pêlos louros.
A parte dela que observava e pensava no que estava a fazer, perguntou-lhe "tens um preservativo?" Ele pareceu meio perdido, mas depois respondeu-lhe "no quarto do meu irmão". Anya nem sabia que ele tinha um irmão.
O Filipe levantou-se e voltou num instante. Com ele ainda de pé, ela lembrou-se de lhe pedir também uma toalha, não queria sujar a cama se sangrasse, mas quando  lhe disse para que era a toalha, ele ficou de repente muito sério.
Virou-se de costas e quando de novo se virou para ela, parecia decidido e um pouco aborrecido "a nossa primeira vez não pode ser assim".
Que nossa? foi o que pensou responder-lhe.
De repente ficou muito zangada e só um pouco aliviada. O idiota estava a desprezá-la, a acabar com o seu plano. Apertou o sutiã, vestiu o vestido, agarrou na carteira, e enquanto calçava as sandálias, e se dirigia para a porta, gritou-lhe: " a minha primeira vez não será contigo, mas com outro, idiota" e teve o prazer de o ver tropeçar nas calças de ganga que estava a enfiar, antes de sair a correr.
Depois, teve sorte, ao chegar à paragem, vinha o seu autocarro, apanhou-o e não olhou para a retaguarda para saber se ele viria ou não atrás dela.
No dia seguinte, a turma dele só teria uma aula com a dela, no final da manhã.
No terceiro período foi falar com a professora, disse-lhe que lhe doía a barriga.
Era boa aluna, das bem comportadas, que nunca faltava, e a professora deixou-a sair mais cedo. Foi-se embora rapidamente, apenas um pouco curiosa sobre se ele viria procurá-la.
Meteu-se o fim-de-semana, e na segunda-feira quando chegou a aula, duas amigas vieram ter com ela, e disse-lhe a Emília "Olha o Filipe veio à tua procura na sexta e ficou zangado quando soube que tinhas saído mais cedo, o que é que lhe fizeste?". "Nada", respondeu, não lhe fiz nada, mas atrás das amigas apareceu o Filipe e com ar zangado de quem seria capaz de carregá-la, se se recusasse a ir com ele, "Temos de conversar, tu e eu".
Consentiu e resolveu segui-lo para pôr um ponto final naquela história.
Vieram cá para fora, atrás do pavilhão principal, num lugar mais escondido. Ele parecia tão zangado que até pensou se iria bater-lhe, aproximou-se e obrigou-a a olhar da baixo para cima, olhos nos olhos, e então aproximou-se ainda mais e, em vez de lhe bater, beijou-a.
Ela sentiu de novo o calor do seu corpo, o seu cheiro, o gosto da morango do seu beijo. Fechou os olhos e percebeu que sentira falta dele e naquele instante a que estava de lado a observar fundiu-se na que sentia. Quando voltou a abrir os olhos, ele já não parecia zangado e ela de alguma forma tinha perdido o controle da situação. Ele disse‑lhe: "agora és a minha namorada" e voltaram os dois de mãos dadas para a sala.


2 comentários:

  1. Gostei muito. As personagens estão bem caracterizadas. As suas emoções, hesitações e contradições estão bem descritas e penso que consegue transmitir bem ao leitor o que se passa no íntimo da peronagem feminina. Não é certamente um conto erótico, mas é um conto de amor muito bonito. Parabéns!

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  2. Muito obrigada Miss Smile por ter lido e pelas palavras, especialmente porque gosto muito do que escreve e de como escreve.
    um beijinho
    Gábi

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