Acabei de ouvir nas Notícias que a esta hora mais de metade do mundo já entrou em 2016...
"Quem tropeça é sempre alguém que se distrai a olhar para as estrelas" Vladimir Nabokov (nome do blogue veio do livro para crianças de Virgínia de Castro e Almeida)
quinta-feira, dezembro 31, 2015
quarta-feira, dezembro 30, 2015
Post 5349 - 04/10 - O impossível
Faltou tentar o
impossível.
Lançar-se do topo de um
arranha-céus e chegar ao chão incólume.
Enfiar-se no meio de
dois duelistas, sentir o toque das suas espadas e sobreviver sem feridas.
Atravessar uma casa em
chamas sem arder.
Chegar ao pé dela e
dizer-lhe: gosto de ti.
Ao invés, quedava-se mudo,
gaguejava até só no pensar em que lhe diria.
E ninguém sabia,
escondia de todos o fogo que o queimava por dentro e a vergonha da sua cobardia.
Um dia, se ao menos um
dia, pudesse ser outro.
Teve então a terrível ideia
de pedir ao Rafael que lhe escrevesse uma carta para ela. Confiou naquele que
acreditava ser seu amigo. E ele lançou para o papel frases bonitas mas que
ficavam muito aquém de tudo o que sentia. Terminava com a pergunta mais
importante, se ela corresponderia, se o quereria para namorado.
No dia seguinte a
enviar a carta, começou o seu maior pesadelo.
Clara procurou-o, num
intervalo, olhou-o com os seus olhos de céu numa interrogação muda. Esperava
talvez que ele lhe repetisse o que estava escrito, que lhe dissesse de viva voz
aquelas frases bonitas, ao menos, que repetisse que gostava dela e a pergunta
com que concluía.
E ele não conseguiu
dizer-lhe nada.
Fugiu.
Mais tarde, viu-os
juntos, demasiado juntos, e outros disseram-lhe que eles tinham começado um
namoro, que durou dias.
A Clara teria procurado
o verdadeiro autor da carta e acreditado nas suas frases vazias. O Rafael,
falso amigo, nunca antes tinha reparado nela.
A dor da dupla traição
varreu-lhe a vergonha.
No recreio, bateu no
Rafael e empurrou a Clara.
Foi chamado ao Director
e repreendido.
Naquele ano não quis
mais saber de raparigas embora tivesse voltado a falar com o Rafael. No
seguinte, arranjou uma namorada que não era a Clara.
terça-feira, dezembro 29, 2015
segunda-feira, dezembro 28, 2015
domingo, dezembro 27, 2015
Post 5342 - Pela blogosfera
Ontem descobri o blogue Livro Velho ou http://livrovelho.blogs.sapo.pt/
que também tem o blogue Pimenta e ouro ou http://pimentaeouro.blogs.sapo.pt/
Gosto muito de como escreve o seu autor.
que também tem o blogue Pimenta e ouro ou http://pimentaeouro.blogs.sapo.pt/
Gosto muito de como escreve o seu autor.
Post 5340 - 1/08 A Sala de espera
“…A sala de espera é pequena não cabe quase
ninguém, uma dezena de cadeiras distribuídas como quem espera o barco que vai
de saída. Um ar condicionado que sopra ruidosas lufadas num ar já viciado nos
odores que por aqui vão passando. Uma máquina avariada, desmaiada na parede,
onde se lê “Procure aqui o seu emprego”.
Maria sentou-se na última cadeira vaga, a
grande barriga pesava-lhe e segurava o mais novo pela mão. A Ana, a mais velha
foi dar o nome da mãe. Ouvia a sua voz fininha com o “se faz favor” que lhe
ensinara, “para a Maria Silva, ainda demora muito?” Sentiu orgulho na sua
menina. Quando ela voltou, beijou-a na bochecha direita, deixando-a corada
enquanto repetia o que lhe tinha dito a senhora, “é já a seguir”.
O já a seguir demorou muito, mais de meia hora,
em que teve de entreter o Pedro. Deu-lhe uma bolacha, deixou-o sentar-se no
chão e conseguiu que ele não fizesse uma birra. Os que antes estavam na sala
foram sendo chamados e prontamente substituídos pelos que entravam de novo. Não
sabia se seria bom ou mau que se despachassem tão depressa. Quando a chamaram,
deixou a Ana a tomar conta do irmão.
Entrou para a pequena sala, quatro por quatro
metros, atafulhada com uma estante pesada e uma grande secretária que a
tornavam ainda mais pequena. Sentou-se na cadeira enquanto olhava para o homem
gorducho à sua frente. Era capaz de apostar que a barriga dele era maior do que
a sua. Ele tinha uma capa aberta sobre a mesa, talvez o seu processo, mas
estava absorto a olhar para o computador. Maria tossiu para anunciar a sua
presença. Sem a olhar ele fez-lhe um gesto para que aguardasse. Mais alguns
minutos passaram até que se dignou desviar o olhar para ela: “Então Maria
Silva, não é?”. Maria assentiu e esperou.
“Para quando é?” Ele perguntou, levantando o
queixo em direcção à sua barriga.
“Este mês”. Respondeu-lhe.
“Está com sorte” ele continuou, “para daqui a
dois meses é precisa uma ama e a cliente não se importa que leve os seus filhos.
Está interessada?”.
Claro que estava. Agarrou no papel que ele lhe
estendia, e saiu, ainda meio atarantada, multiplicando-se nos “obrigada”.
Quem diria que naquele dia ia ter sorte.
Saiu da Agência, com a oportunidade de emprego
prometida na parede, e com os filhos, um de cada lado.
sexta-feira, dezembro 25, 2015
quarta-feira, dezembro 23, 2015
Post 5337 Restava 2º tentativa (optar pela 1ª ou pela 2ª ou tentar uma 3ª)
Restava alguma farinha, a
suficiente para fazer um bolo, pensou Maria enquanto fazia a lista de compras
para o dia seguinte. E se o pensou, melhor o decidiu. Tinha seis ovos
oferecidos ontem pela vizinha Graça do 2º andar – tinham vindo da quinta da sua
santa sogra - e açúcar suficiente. Foi buscar a tijela dos bolos, a colher de
pau e a balança. Primeiro pesou os ovos para calcular em metade a quantidade da
farinha e igual a do açúcar. Tudo bem misturado e batido até aparecerem bolhinhas foi
de seguida ao forno já aquecido, na forma bem untada de manteiga e polvilhada de
farinha.
Pouco depois espalhava-se pela
casa o cheiro do pão-de-ló.
Espetou-o com um palito, enquanto
o vigiava, abrindo a porta do forno só por segundos, até que estivesse pronto.
Desenformou-o, sacudindo-o na
forma que virou ao contrário, e saiu direitinho, sem se desmanchar, redondo com
um buraco no meio.
Levou-o para a sala, onde o
deixou a dominar bem no centro da mesa.
Chegou o José do trabalho, o
cansaço dissipado assim que entrou em casa e sentiu o odor doce. Quis logo
provar o bolo quente, já desenformado, dourado em cima da mesa a arrefecer.
Primeiro, deixa que o veja o
menino, ordenou-lhe a sorrir.
Nem de propósito chegou o filho
mais cedo da escola com o melhor amigo, e foram logo atraídos pelo bolo.
Esperaram os três que os deixasse
só provar e Maria consentiu. Mas porque os conhecia teve a feliz ideia de antes
de os deixar sozinhos, levar uma fatia para si. Não previa uma vida longa para
aquele pão-de-ló. E modéstia à parte estava muito bom, bem cozido, ainda
quente, mais doce na cobertura, desfazia-se na boca.
Pouco depois, só o cheiro tinha
ficado e do bolo nada mais restava.
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