quarta-feira, janeiro 09, 2013

Post 3117

O que é que será que acontece com os milhares de diários desinteressantes que devem ter existido ao longo dos tempos?
Eu tenho um que comecei aos dez anos - ofereceram-me um caderno com uma chavinha e as primeiras páginas estão preenchidas com uma letra gorda e alguns erros ortográficos. Depois os erros e a letra foram diminuindo e ganhei o hábito de lá escrever, muito de vez em quando, sintetizando em poucos parágrafos o que me parecia em cada idade ser importante. Neste momento, resta apenas meia página e já lá não escrevo há anos (não quero terminá-lo, nem que tenha de continuar a apertar a letra e torná-la quase ininteligível).
Tenho outro que comecei aos quinze e terminei aos vinte e cinco. Reli-o há meses. Não consegui detectar grandes diferenças na forma de escrever e temas escolhidos. Portanto, ou era um génio aos quinze ou algo de terrível deve ter acontecido e bloqueei.
Os dois, apesar de iniciados em idades diferentes foram assim objecto da minha atenção em simultâneo, até aos vinte e cinco. No segundo, enquanto simples caderno, não havia limitação de espaço uma vez que quando o terminasse, poderia logo de seguida começar a escrever num caderno parecido.
Tenho ideia de que antes e depois terei começado outros diários em cadernos, nos quais escrevi apenas um ou duas páginas e que não guardei.
No entanto, a certa altura comecei mesmo a escrever um diário e surgiram os diários chatos. Primeiro, nos cadernos da Porto Editora, de capa amarela e título de diário. Quando deixei de os encontrar à venda, passei para os Moleskine e já enchi duas caixas. Com excepção de algumas raras páginas, são mesmo chatos, mas sei que em qualquer discussão, poderei comprovar por exemplo onde é que estava no dia x, do mês y, do ano z...o único problema será encontrar o dia (e já agora arranjar uma discussão em que isso seja relevante) - neste âmbito um diário na net, como um blog, em que se pudesse pesquisar por dias e palavras iria sem dúvida facilitar esse propósito.
Entretanto distanciei-me da questão inicial.
Devem existir milhares ou milhões de diários assim. O que é que será que lhes acontece?
Ninguém os distingue de simples cadernos de apontamentos e são levados para reciclagem.
Permanecem por descobrir no sótão de casas velhas da aldeia, até que as casas caem ou ardem, e desaparecem com elas.
São cuidadosamente guardados pelos descendentes, até que um destes tem a ideia de ler algumas páginas da preciosidade escrita pela tia ou tia avó, e logo após e de seguida, leva-os para reciclagem ou utiliza-os para acender a lareira da velha casa da aldeia...

27 comentários:

  1. Não há diários desinteressantes, Gabi.

    Publique aqui os seus diários, e as suas leitoras (leitores também) vão adorar essa leitura.

    Cá fico à espera!!!

    ResponderEliminar
  2. Também acho que não há diários desinteressantes.
    A questão que colocas é muito interessante. Imaginar o que aconteceu aos diários que foram escritos é um exercício estimulante ;)

    ResponderEliminar
  3. Não sei não, Ematejoca, parece-me que com essa publicação, blog iria era virar um deserto e eu própria correria o risco de adormecer enquanto procedia à transcrição :)

    ResponderEliminar
  4. Tétisq, quando até para o próprio autor são chatos, é porque são chatos mesmo :) (só continuo a escrevê-los porque 1) sou masoquista; 2) gosto da ideia de guardar o registo dos dias, e 3) pelas poucas páginas de que gostei, que talvez seja melhor não reler para poder conservar essa ideia positiva... :)

    ResponderEliminar
  5. Também comecei um diário mais ou menos nessa altura. Era castanho, com folhas macias e tb tinha uma chavinha. Com as mudanças desapareceu ou queimei-o, não me recordo. Apenas me recordo do que escrevi numa página. Um poema em alemão para que, na eventualidade de alguém lá em casa ter a infeliz ideia de ir espreitar – nomeadamente, irmão mais jovem! – ninguém entendesse patavina. Os versos não rimavam e resumiam-se a meia dúzia de palavras, as que já tinha aprendido! : )

    ResponderEliminar
  6. Nunca tive essa ideia, Gábi.
    É impressão minha, ou é mais vulgar entre as mulheres?
    Bjs

    ResponderEliminar
  7. Eu pessoalmente nunca tive um diário de escrita mas sim um vários diários gráficos. Mas tenho bastantes cartas e postais de à quatro gerações atrás, incluído abrotipos (negativos em vidro). E tenciono que passem por mais gerações vindouras.

    ResponderEliminar
  8. Os diários nunca são desinteressantes, são escritos por quem por uma razão ou outra, lá colocou o que de mais importante para si era no momento.
    Quem os vier a ler é que pode ou não se interessar pelo assunto de alguns dos registos.
    Acontece o mesmo com alguns postes, há pessoas que sigo que, por vezes, escrevem sobre assuntos que podem estar até muitíssimo bem escritos mas cujo o assunto nada me diz...
    Abracinho meu!

    ResponderEliminar
  9. Quem sabe não veremos surgir um novo Diário de Anne Frango?...
    Garimpa de lá, garimpa de cá, que eu vou treinando meus heil hitlers...

    ResponderEliminar
  10. Nunca gostei de diários. Tive um na adolescência, mas não passou de uma tentativa falhada.
    Assusta-me esse registo diário das coisas, essa possibilidade de não esquecer é contra-natura. Eu acho que a vida só faz sentido se algumas coisas se forem simplesmente apagando, como se fosse um organismo vivo. Manter um diário é como se fosse um cemitério de memórias...

    ResponderEliminar
  11. Enviados para a reciclagem, ou para acender a lareira, não se pode dizer que não tenham sido úteis.
    Enfim, meninas...
    :)

    ResponderEliminar
  12. Gábi,

    ando sempre com um Moleskine, bem três para dizer a verdade, que me ajudam a agendar, sistematizar e desenhar a minha vida e olhe que já o faço desde os meus 30 anos (portanto, há 11 anos) e não me arrependo!

    Tenho já uma "colecção" considerável de Moleskine arquivados no escritório lá de casa.

    Beijinho e venham de lá esses diários. :DD

    ResponderEliminar
  13. Foi coisa que nunca fiz, escrever diários. A não ser virtuais, aí o blog pode assumir esse papel. Beijoca!

    ResponderEliminar
  14. Pareceu-me uma boa ideia, Catarina, a dos versos em alemão para disfarçar...quando tinha 10 anos isso também me preocupava porque tenho duas irmãs :)




    Eu tinha a ideia contrária, Pedro Coimbra, de ser mais comum nos homens, até porque há célebres diários de escritores...neste momento, só estou a lembrar-me de Miguel Torga, mas sei que há mais...
    um beijinho



    Diários gráficos, parece interessante Sara | Ambrosia...também guardo cartas e postais, mas só os que me enviaram. De quatro gerações atrás, ainda parecem mais interessantes, podendo até servir de base para se escrever um livro.




    O que tem acontecido comigo Maria Teresa é reler algumas frases e ficar a pensar porque razão é que terei pensado em registar aquilo :) por isso, em parte também não são interessantes para mim, a própria autora :)
    Estou de acordo com o paralelo com os posts e acontece o mesmo com livros
    um beijinho



    Ia ter de garimpar muito, Hesseherre :)
    tanto, que no final ainda não ficava nada :)
    um beijinho



    É impossível conseguirmos registar tudo, Roque, mas às vezes, pode ser como uma porta para o passado, mais do registar factos, lembrar-mo-nos, quase sentirmos, o que em parte tinhamos esquecido.
    A ideia do diário como cemitério de memórias é bem interessante, até porque por um lado, é precisamente isso que quero evitar quando escrevo, ou seja, quero mais do que lembrar apenas factos, sem os sentir, como se não tivesse sido eu a vivê-los.





    Pois, pelo menos, serviriam para isso, Rui Pascoal :) E o que é isso de meninas, e então os grandes escritores que escreveram diários, como Miguel Torga?



    Esses Moleskines, serão também uma espécie de diários, Ricardo Meneses, certo? :)
    Eu tento fazer isso, nas viagens em férias, mas tenho de melhorar muito as minhas aptidões como desenhadora...




    Era precisamente o que estava a pensar, Rafeiro Perfumado, os blogs podem ser uma espécie de diários :)
    um beijinho

    ResponderEliminar
  15. Venho dar a mão à palmatória e bem mereço o castigo. Vê lá tu que eu até tenho esses Diários do Miguel Torga... não só tenho como os li.
    Imperdoável!
    :(

    ResponderEliminar
  16. Eu tenho destruído tudo o que fui escrevendo ao longo dos anos...incluindo as cartas de amor!
    Penso que estou a fazer um favor ao meu filho!
    Somos todas/os tão diferentes!

    Abraço

    ResponderEliminar
  17. O meu blog é uma espécie de diário, se calhar é por isso que tenho tão pocos seguidores e visitas, mas eu escrevo porque adoro diários, tenho caisa cheias deles, até guardo facturas, talões, folhas, flores pequenas recordações dos sitios por onde passo.Faço tambem una diários das viagens e passeios que tenho feito, gostaria que dessem uma espreitadela...

    http://marinaribeiromaia.blogspot.pt/search?updated-max=2012-09-27T05:00:00%2B01:00&max-results=15&start=149&by-date=false

    ResponderEliminar
  18. Bem, Rui Pascoal, eu também não consegui lembrar-me até agora de mais nenhum autor homem :( por isso acho que o melhor é estarmos os dois perdoados :)





    No livro que estou agora a ler, Rosa dos Ventos, "As Horas Distantes" da Kate Morton, há uma filha que se aproxima da mãe porque lê umas cartas que ela escreveu à mãe dela, quando era criança, e depois a própria mãe dá-lhe o diário que tinha escrito nessa altura...mas quer as cartas, quer o diário estão muito bem escritos :)
    um beijinho




    Também gosto de guardar pequenas recordações, Marina :)
    Vou fazer um post com um link para o teu blog.
    um beijinho

    ResponderEliminar
  19. Nunca tive diário... tenho alguns cadernos com rascunhos, mas diário, relatos dos meus dias isso não. Sou preguiçosa em tudo :)

    ResponderEliminar
  20. Pode ser que esses cadernos com rascunhos aejam muito mais interessantes que os meus diários chatos :)

    ResponderEliminar
  21. Também tive um diário na adolescência, sempre gostei de registar factos e vivências, sei lá, dá-me prazer! Depois deitei-o na sanita com medo que o meu irmão o fosse cuscar. Quando cheguei à idade adulta voltei a escrever num caderno grenat, que agora penso como era feio... Entretanto os anos passaram e penso que tenho para aí uns seis cadernos escritos
    Quando chegou a era da blogosfera mudei-me para aqui e esqueci quase por completo o diário manuscrito. Sim, o meu blogue é um diário, talvez mais desenvolvido que um diário onde se escreve ao ritmo do pensamento, mais composto, com fotos e linques.
    Concordo contigo quando dizes que os diários são desinteressantes, a maioria das coisas que escrevemos não instigam ninguém a ler, muito menos os familiares, e creio que se assemelha bastante e a uma caixa de Pandora, estão lá todos os males...
    E pronto, o meu blogue é um diário... Por isso não tenho muitos leitores.

    ResponderEliminar
  22. Como tua seguidora, também acho que de certa forma o teu blog pode ser uma espécie de diário, mas também por outro lado, é muito mais do que isso, pela imaginação e criatividade de muitos textos. E não é por ser um diário que não tens muitos leitores. Há blogues com centenas de seguidores nos quais só estive uma ou duas vezes porque depois não me pareceu que tivessem nada de especial que me levasse a voltar, ao contrário do que acontece com o teu. Por isso como tua fã espero que um destes dias sejas descoberta por muitos leitores e passes para 1º blog em nº de seguidores.
    um beijinho
    Gábi

    ResponderEliminar
  23. Só tenho 4 palavras a acrescentar:

    Diário de Anne Frank...

    ResponderEliminar
  24. Rui

    Dostoievski ... 'O diário de um escritor'

    ResponderEliminar
  25. De nada, Gina :)
    um beijinho



    Não sabia que Dostoievski também
    tinha escrito um Diário, Tétisq :)

    ResponderEliminar