Post 2348 TPC 2ª Tentativa

- Belo/medonho e violência/paixão

Era muito tarde e já deveria estar a dormir há horas, mas não conseguia adormecer. A certa altura desistiu e levantou-se da cama. Àquela hora, na televisão, apenas encontrava concursos que não a interessavam. Resignou-se a sentar-se em silêncio na sala. Afastada do relógio, mas mais consciente do barulho da chuva que caía lá fora, audível perante a quietude de tudo o demais. E lembrou-se então do que queria esquecer. Em breve, seria o décimo aniversário do seu desaparecimento. Apenas ela sabia também que da sua morte. Apaixonara-se perdidamente por Raul e não conseguia aceitar que nela ele só visse uma amiga colorida. Procurava-a para recuperar das separações ou simplesmente porque estava aborrecido, e deixava-a, assim que de novo se entusiasmava por outra. Chegou uma altura em que finalmente percebeu quão pouca importância tinha para ele. Discutiram. Ele empurrou-a, virou-se para sair e deixá-la pela última vez. Não conseguia lembrar-se bem do que pensara então. Não queria matá-lo. Talvez não quisesse apenas que ele saísse. Agarrou na estatueta medonha que ele lhe tinha oferecido e bateu-lhe com ela na nuca. Ele caiu devagar à sua frente, primeiro de joelhos, depois tombou, meio de lado. Sangrou imenso. Ela não fez nada durante horas. Depois, confirmou que ele tinha morrido e eficientemente livrou-se do corpo e limpou o espaço.