terça-feira, março 03, 2009

Os Cinco Sentidos

Qual teria sido o primeiro? Quando olho para trás e tento perscrutar minuciosamente qualquer reminiscência, surge sem qualquer dúvida, a visão e aparecem-me imagens iluminadas, o sol sobre a cama da avó onde deitada tocava com os pés na cabeça, ou estarmos na rua, a minha irmã mais nova num carrinho, e a nossa mãe comprar-nos chupa-chupas com caras de gatos. E reparo agora enquanto escrevo como vieram misturados, o tacto, na macieza da manta e no calor do sol na pele, e o gosto doce do açúcar. Penso um pouco mais e lembro-me de diversos cheiros, sobretudo nas visitas a casa dos avós. O cheiro dos papéis na escrivaninha do avô de Lisboa. Ainda hoje um cheiro parecido faz-me pensar em mundos misteriosos e passados para os quais aqueles papéis abriam uma ponte. O odor das estevas em horizontes largos a sublinhar que chegávamos por fim, terminava a viagem infindável de carro, reencontrávamos na casa da aldeia em Trás-os-Montes a cozinha com louça azul e o fumo da lareira. E onde ficam os sons? Nas memórias mais antigas na segurança de adormecer e acordar de tarde a ouvir vozes, imperceptíveis no que diziam, reconfortantes porque familiares.

5 comentários:

  1. EStive uns minutos a pensar e concluí que o sentido que está atrás de todos é o tacto - o aconchego do colo da minha mãe.
    Se calhar, se escrevesse isto amanhã ou daqui a pouco, sairia outro sentido qualquer, mas por ora saiu isto. :)

    ResponderEliminar
  2. Elejo o cheiro. O cheiro do café acabado de coar.

    ResponderEliminar
  3. Parece-me uma memória muito boa, Gigi :)


    Bem, Bell, esse é um cheiro que eu também elegeria :)

    ResponderEliminar