quarta-feira, abril 24, 2024

CNEC 68/40 - 2/10

 

 

Pouco se lembrava da tia-avó. Vinha-lhe à ideia uma senhora magrinha e baixinha, que pouco falava, mas parecia bondosa.

Teria estado presente em festas dos avós até que estes morreram.

Não sabia sequer que ainda era viva, até ser confrontado com a notícia de que tinha morrido e que ele era o único herdeiro.

Havia um valor depositado no Banco, “o poucochinho que ela poupou”, disse-lhe o Notário com um ar triste e sério.

Era preciso entregar a casa arrendada ao senhorio. Entrou lá pela primeira vez para escolher o que era para dar - praticamente tudo, móveis e roupas velhos. No entanto, descobriu também num guarda-fatos, um álbum de fotografias.

Apesar de não saber bem o que fazer com ele, resolveu trazê-lo consigo.

Na sua casa e com mais tempo pegou nele. As fotografias eram bem antigas. A preto e branco, mais amarelo que branco, pela acção do tempo, chegaram até ele imagens de desconhecidos, em fatos domingueiros e poses rígidas. Seriam da sua família? Pais, avós ou tios da tia-avó? Seria ela a criança que a mãe forçava a estar na cadeira? Via-se a mão direita da senhora de vestido comprido e de corpete a prender pelo ombro a menina que não olhava para ele, mas para o lado. Quereria fugir dali ou descobrir o que ficava além?

Até que na penúltima página se viu a si próprio. Tinha um corte de cabelo diferente e as mesmas roupas e pose dos demais, mas o olhar era diferente de todos os outros. Dir‑se‑ia que sorria e lhe ia piscar o olho.

Por essa fotografia, não deitou o álbum fora. Queria descobrir quem era aquele homem, tão parecido consigo.

Descobri-lo fê-lo também sentir que algo o ligava aos fotografados, a razão para ter sido o álbum precioso para a tia-avó.

 

 

1 comentário:

  1. Lembro-me bem das avós.
    E da tia-avó (Albertina).
    Há aqui memórias dela na posse da minha mulher.
    Beijinho

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