quinta-feira, novembro 12, 2020

Post 7789 - CNEC 51/23 - 5/10 A Bela e o Gato

 

Viu-a pela primeira vez no autocarro. Era verdadeiramente notável e inesquecível. Cabelo negro, pálida, de olhos claros, com uma elegância única. Dir-se-ia que em vez de andar, flutuava, qual fada de contos encantados, mágica e fascinante.

Seguiu-a, sem conseguir a coragem para a abordar. Ficou pelo menos a saber onde morava. Uma mansão antiga e murada, ao fundo duma rua escura e silenciosa, de casas iguais que à primeira vista pareciam vazias e abandonadas. Quando passara pelo portão ferrugento da entrada, os ramos de árvores e plantas tinham-na ocultado, e quase escondiam o edifício inteiro, trepando pelas paredes até ao telhado.

Voltou a passar por lá na esperança de a ver, ensaiou o que lhe diria. Do portão apenas o espreitava um gato preto.

Um dia, ia no início da rua e pareceu-lhe que era ela que saía de casa. Apressou o passo, mas ao aproximar-se, viu que era uma mulher bem diferente que caminhava na sua direcção. Seria mais uma bruxa, fétida e maligna. Fez por a ignorar, mas ela dirigiu-se‑lhe, perguntou-lhe algo, só que numa língua desconhecida. Queria evitá‑la, mas ela tocou-lhe num braço e sentiu-se preso. Inverteram o rumo, a caminho da mansão, como se a bruxa e a casa o puxassem. Rangeu o portão quando a velha o empurrou.

Foi então que com um silvo o gato se lhes atravessou à frente. A mulher recuou e largou-lhe o braço. Ele conseguiu afastar-se, quebrado o feitiço, fugiu-lhe e escapou-se dali.

Perto de onde morava foi dar com o gato que o seguira. Abriu-lhe a porta e ele entrou, como se já conhecesse o seu prédio e apartamento. Adoptaram-se um ao outro, aliás, ele a ela, porque era uma gata. Sentia que ela o salvara e que um dia poderia talvez transformar-se na bela, se ele descobrisse como.

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