quinta-feira, outubro 22, 2020

Post 7756 - Para 7º Tema do Super torneio de Escrita, 1ª tentativa

Burra e Parva na sua primeira paixão por alguém que nada valia.

Pudera saber então o que hoje sabia.

Quinze anos deslavados e feia. Queria tanto ser bonita.

Se a convidavam para uma festa, claro que ia.

Bebeu, dançou sozinha, ninguém lhe ligava. Que lhe importava?

Pelo menos que ninguém soubesse da indiferença fingida.

Então algo diferente sucedeu. 

O Jaime viu-a.

Quando a chamou para um canto, foi.

Teve o primeiro beijo na boca, cuspo, fedia a álcool, a língua dele na sua boca, as mãos dele a abrirem-lhe com força a camisa, saltou um botão, as mãos dele geladas nos seus peitos, e o que é que lhe dizia?  "sei o que tu queres, tu queres é isto". O barulho à volta, próximo, demasiado perto, alertou-a. Não estavam sozinhos. Empurrou-o e fugiu, entre risos dele e de outros.

Vergonha.

Devia ter sabido. Porque outra razão a chamaria?

Burra, Parva.

E suja, enojada com o cheiro dele que nela sentia, como se a tivesse marcado.

 

Voltou mais tarde ao local do crime.

Vazio e sujo, ainda não fora a sala limpa, garrafas e copos espalhados pelos móveis.

No chão encontrou o botão arrancado, premiu-o com força e guardou-o: "um dia mato-o e mato-me".

 

Depois cresceu e deitou fora o botão.

 

OU

 Poderia ser uma lenda urbana?

Estava com pressa e o semáforo nunca mais mudava, mas desde criança que tinha uma estranha aversão a carregar no botão. Pressentia um perigo nunca concretizado quando era outro alguém que impaciente o premia. Se lhe dissessem carrega aí no botão, desculpava-se, "não adianta, não é por isso que muda".

Enquanto pensava e recordava, apareceu o bonequinho verde, ouviu-se o zumbido que permitiu a ele a outros iniciar a travessia.


OU


Carregou no botão para chamar o elevador, não olhou quando a porta se abriu, entrou e caiu no vazio do poço do elevador que só depois desceu, esmagando o seu corpo já sem vida pela queda.


OU


Conseguiu aceder às contas dos poderosos, descobriu enganos, fraudes e corrupção, mas estava demasiado velho e cansado para o denunciar. Carregou no botão "Delete".


Poderia também ter carregado no "Enter" e ter enviado para os seus contactos e ficar então na expectativa do que iriam fazer com toda a informação recebida, denunciar ou ocultar?


OU


Carregou no botão da rosa amarela, desmaiada sobre a secretária, para descobrir se era verdadeira. Era. Quem a teria deixado ali? Qual seria o seu significado? Teria um admirador secreto?

Foi ver no Google, na wikipédia "Assim como as vermelhas e as corais, as rosas amarelas representam amor, respeito, alegria, amizade e desejo. Há opiniões divergentes sobre seu significado."


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