Paf!
Doeu-lhe?
O
primeiro estalo. Deixou-a antes meio espantada. Não veio sozinho, ele completou
com: “Cala-te lá, vês o que me fazes fazer?”
E
ela calou-se.
Pensou,
como é que aquele que acreditei ser o homem da minha vida está igual ao meu pai?
Lembrou-se de todas as tareias que viu a mãe levar, de como o pai também a
culpava. Porque não tinha o jantar pronto, porque gastara demais, porque andava
muito tempo na rua, porque andava de unhas pintadas para os outros verem, não
agia como uma mulher de bem, mas como uma puta.
Cresceu
com isso. Viu como a mãe se calava e morria por dentro. Cada dia mais magra e
sofrida até que morreu mesmo. Disseram que teve um cancro. Ela sabia que a
verdade era outra. Desistiu de viver. Foi-se tão em silêncio como quando
apanhava o que ele deitava ao chão, disfarçava as negras, e lhe desciam raras e
amargas lágrimas pelos sulcos e feridas na cara.
Continuou
calada quando ele lhe veio pedir desculpa. E também quando ele se zangou porque
ela não lhe respondia. “Foi o vinho, não volta a suceder. Mas porque é que não
dizes nada, estás estupida?”. Talvez
meio envergonhado pelo estalo, ele não insistiu e foi-se deitar.
Ouviu-o
ressonar enquanto arrumava as suas coisas.
Aquele
foi o primeiro estalo e o último
Nunca
se arrependeu de ter ido embora.
Infelizmente essa é a realidade de muitas mulheres (olha, e pelos vistos de homens também, que agressões e violência também a há no sentido oposto).
ResponderEliminarNão imagino como será viver com violência dentro de portas... e gostava que nunca ninguém soubesse, fosse mulher, criança ou mesmo homem!
Beijinhos e parabéns pela coragem de escrever sobre um tema tão duro e difícil.
(^^)
Só de ler dói.
ResponderEliminarBeijinho
Deviam todas fazer o mesmo mas isso não os impede de continuarem a persegui-las!
ResponderEliminarAbraço
Muito bem escrito. Uma realidade à qual muitos fecham os olhos, inclusivamente o sistema judicial.
ResponderEliminarUm texto muito sofrido e infelizmente muito real.
ResponderEliminarAbraço e bom fim de semana