quinta-feira, maio 16, 2019

Post 7075 - Desafio de Escrita 2/10 - Resta-me acreditar que


“Resta-me acreditar que se morreres tudo acabará”. Disse e disparou.
Juraria que nesse instante o tempo parou.
Não estava à espera, nem das palavras, nem da arma que lhe vi na mão.
Escutei o som do tiro, soou-me como um trovão. Não podia fugir-lhe. Senti-o como um soco, fez-me tombar para a frente. Segurei-me na mesa, e vi quando saía.
Pensei: idiota, sai sem se certificar do resultado.
E nada me doía.
Não sentia mesmo nada.
Percebi que isso era estranho enquanto o meu corpo escorregava para o chão.
Devia estar de olhos abertos porque continuava a ver o que se passava ao meu redor, ouvi o som dos seus passos enquanto se afastava, diminuindo até não mais os escutar, ao longe um cão ladrava. A crescer o som de uma ambulância. Para onde iria? Vinham por mim, chegaram quando como uma lâmpada fundida perdi a consciência.
Não morri.
Aos agentes, respondi não me lembrar do que sucedera. Quase tinha morrido com a hemorragia. Acreditaram-me ou desistiram de insistir. Não valia a pena o trabalho que lhes dava, com o meu silêncio e sem mais testemunhas ou provas, erigi uma montanha intransponível à investigação.
Ainda convalescente fui à sua procura. Tomei todas as precauções para que a história não se repetisse.
Frente a frente, vi como empalidecia, saboreei as suas hesitações e o seu medo.
- “Nada acabou. Não acabará nunca!” Segredei-lhe e saí, sabendo o que se seguiria. Não tardou muito. Ter sobrevivido, ter-lhe mostrado que nada esquecera, foi o gatilho. Só não sabia como, mas usou a mesma arma. Permitiu à polícia construir o caso. Concluíram: Matou-se por remorsos, a culpa deu cabo dele.
Sabia eu a verdade. Matou-se por medo.
Assim no final venceu-me. Morto não podia mais chantageá-lo.
O seu inconfessável perturbador segredo morreu com ele.


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