terça-feira, junho 05, 2018

Post 6711 - Desafio de Escrita (OE) 5/10 - Mini conto policial - Na Estrada de Damasco


A chuva tamborilava sobre o carro parado.
Ele permanecia no interior em silêncio, escutando apenas enquanto esperava que os elementos da polícia científica terminassem. Já tinham levado o corpo para a morgue. O jornalista Paulo de Sarto não iria ter mais nenhum grande furo como os que tinham tornado famoso.
Queria olhar mais uma vez para o local. O que o teria trazido ali? Uma encruzilhada sem casas ou lojas, apenas árvores e lama. O carro do jornalista estacionado na berma, à frente do seu e da carrinha da Polícia. A chuva tinha lavado quaisquer traços de outros veículos que por ali pudessem ter passado.
Os técnicos regressaram à carrinha, e um deles fez-lhe sinal de que tinham terminado. Saiu do seu carro devagar e avançou. Atrás de si escutou o motor da carrinha na manobra de inversão de marcha e depois a afastar-se. Aproximou-se do sítio. Somente os ramos quebrados indicavam onde tinha estado o cadáver, localizado através do GPS no telemóvel. Sobre o corpo, protegido por um plástico tinha um bilhete onde se lia “Estrada de Damasco”. Uma mensagem do seu assassino?
Nos dias seguintes iriam descobrir o stress em que vivia, as dificuldades económicas com prestações de alimentos aos filhos de dois casamentos, as discussões com as ex-mulheres. Nenhuma ligação actual. Vivia sozinho num apartamento hipotecado que herdara dos pais.
O subcomissário saiu-se com a ideia do suicídio e que teria deixado o bilhete para anunciar a revelação da inutilidade da sua vida.
Ele resolveu investigar mais. Com o vencimento dele, estranhava a sua situação económica. Conversou com o Procurador, e conseguiu o acesso a extractos das suas contas. Havia muitas transferências para uma Madalena Oásis, secretária do Ministro Deserto.
Notificou-a para comparecer e tratou de ser ele a inquiri-la. Primeiro não queria falar. Ele advertiu-a de que estava obrigada a responder e com verdade, se não, estaria a incorrer na prática de um crime. Surpreendeu-o quando ela desabou em soluços, com se uma barragem tivesse rebentado, “fui eu, fui eu, mas não queria, ele forçou-me”. Acabou por contar a história toda. Com dívidas por jogar no casino, ela fizera-lhe crer que era amante do Ministro para quem trabalhava. Fora-lhe sacando dinheiro, prometendo-lhe grandes revelações que não cumpria. Ele pressionava-a. No último encontro discutiram. Ela tinha levado um revólver. Fugiu depois de ter disparado.
Contudo, jurou que não tinha sido ela a deixar o bilhete…

14 comentários:

  1. olá ;)

    hummm ... ainda há alhumas coisas a desvendar...

    bjnhs

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  2. Muito bom Gabi.
    Gosto cada dia mais do que escreve, Já pensou em compilar todos os seus seus textos e publicar um livro?
    Um abraço

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    1. muito obrigada pelo apoio Elvira...antes de pensar num livro e se algum dia pensar, tenho de aprender com a Elvira e conseguir escrever textos maiores
      um abraço e obrigada

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  3. Fantástico texto. Dou razão à Elvira. :))

    Hoje, do Gil, que por motoivos porfissionais não pode visitar os blogues amigos:
    Coração em labaredas vulcânicas.

    Bjos
    Votos de uma bos Terça-Feira

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  4. Ora, isto está muito bom, Gábi, e não o digo só para ser simpática, digo-o porque se lê de um só fôlego e com vontade de ler um pouco mais. Muito bem.

    Beijinho e é continuar a escrever, se for desta forma não tarda temos livro :)

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    1. muito obrigada Maria Madeira
      - como escrevi em cima antes de pensar num livro tenho de conseguir primeiro escrever como a Elvira - eu só escrevo mini-textos
      um beijinho e obrigada

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  5. Adorei o que li. Fiquei interessada em saber como participar desse desafio? Em qual blogue foi publicado? Não vi o link! Podes me informar? bjs, chica

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    1. Já fui aí responder, mas vou deixar também aqui os links para os dois desafios em que estou a participar, as Olimpíadas de Escrita e o Campeonato de Escrita:
      http://olimpiadasdeescritacriativa.blogspot.pt
      http://campeonatoescritacriativa.blogspot.com/
      um beijinho e uma boa noite

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  6. Essa imaginação não conhece limites.
    Chapeau!!!
    Beijinhos

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  7. devias aventurar-te num policial.
    temos poucos escritores :)

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    1. de onde estou parece-me que seria muito difícil conseguir manter o suspense mesmo numa novela, quanto mais num policial :)
      um beijinho Laura

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