segunda-feira, dezembro 21, 2015

Post 5326 A espera 1ª tentativa

Restava a Clara olhar para o seu filho enquanto dormia, às vezes em ligeiros sobressaltos pelos sonhos que atravessava. Clara vigiava que não fosse um pesadelo, mas nunca era. Não raro, logo a seguir sorria. O que veria nos sonhos o seu menino?
No quarto, somente a pequena luz de presença perto do cama. Lá fora, ruas vazias e escuras e um silêncio pesado.
Não conseguia dormir, não enquanto aquela angústia a oprimia. Estaria o Rafael bem? Será que iria voltar?
Tinham-se zangado de novo.
 As discussões pioraram desde que tivera o filho. Não queriam gritar à sua frente e era em vozes baixas que se agrediam.
 Depois o Rafael saía, deixava-a a tentar perceber porque é que reincidiam, porque é que de cada pequena divergência faziam um bicho-de-sete-cabeças.
Antes reconciliavam-se na cama. Agora não havia perdão.
Até àquele dia o Rafael tinha regressado, poucas horas depois, a meio da noite. Ela deitava-se e fingia que dormia. Ouvia-o a despir-se sem acender a luz e a deitar-se ao seu lado. Trazia consigo o frio da noite. Ela gostava de pensar que da mesma forma chegaria até ele na cama o calor do seu corpo e só então adormecia.
Na manhã seguinte poderiam nem chegar a trocar nenhuma palavra. Ele iria sair para o trabalho. Ela, enquanto cuidava do bebé, tentaria agir como se tudo estivesse bem. Talvez procurasse uma razão ou um plano para se entenderem melhor, mas já não acreditava que existissem.
Cada vez esperava e temia que fosse a última, que ele não voltasse, que depois se seguisse a separação, dor e acalmia, a definição e ponto final, mas imaginá-lo, dilacerava-a.
Ouviu o elevador e deitou-se. Seguiram-se os ruídos da chave na fechadura e da porta a abrir. Era ele.
E até à próxima discussão nada mais restava.


3 comentários:

  1. Suponho que por vezes a separação é preferível a um ambiente conflituoso desses. Por vezes, porque há quem goste dele, já que as constantes embirrações dão alguma luta e uma sensação de diálogo... :)

    Beijocas

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  2. Foi uma primeira tentativa Teté para um desafio de escrita.
    Obrigada por teres lido e pelo comentário :)
    um beijinho



    Estou a pensar em 2ª tentativa ser menos triste, MAG :)
    um beijinho

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