Depois
do almoço foi para a esplanada. Estava ainda calor, embora por vezes nuvens
brancas tapassem o sol e sombreassem as mesas. Sentou-se virado para o mar.
Soprava algum vento e achou que cheirava a maresia.
Mal
se tinha sentado quando um pequeno cão saltou para o seu colo.
Era
tão leve que mal o sentia, mas quando tentou que voltasse para o chão,
rosnou-lhe. Ficou sem saber o que fazer. Mas quem seria o seu dono que tal enxovalho
alheio permitia? Devia ser de uma mulher, porque tinha uma coleira cor-de-rosa.
Olhou
à sua volta. Uma mulher gorda descia vagarosamente a rua na direcção do café. Devia
ser dela. Só tinha de esperar que chegasse. Quando chamasse o cão, ele
levantar-se-ia para a repreender com severidade: “Isto não se faz minha senhora”.
Imaginou-se rodeado pela concordância dos demais frequentadores da esplanada,
enquanto a mulher de olhos baixos e envergonhada, não saberia o que responder,
até que ele magnânimo revelasse com um aceno que por aquela vez a desculpava.
Entretanto, a mulher entrou para um carro azul que parara na rua para a acolher.
Voltou
a olhar em redor. Deveria ser então da jovem bonita de bikini vermelho, que
namorava o empregado, lambuzada de gelado. Quando ela se apercebesse do
ocorrido, viria desculpar-se. Ele sorrir-lhe-ia, “não incomodou nada”,
dir-lhe-ia, e talvez ela se sentasse na mesa ao seu lado e ficassem a conversar
enquanto faziam festas ao cãozinho. Mas eis que a jovem vai embora, passando
por eles, sem se deter.
Repara
então que nenhum empregado veio trazer-lhe um café ou receber o seu pedido e
que à sua volta ninguém o parece ver. E percebe porquê, à medida que se
dissolve, no final da página, na trecentésima palavra.
O
cão afinal sozinho no banco vai ter com o narrador.
Excelente. Adoro este género de textos. :)
ResponderEliminarObrigada Luísa :)
ResponderEliminarConsigo ver o que descreves, gostei do que li.
ResponderEliminarObrigada por teres lido :)
ResponderEliminarum beijinho