quinta-feira, agosto 20, 2015

Post 5028 - Recepcionista - 1ª tentativa

Isto está difícil e faz-se o que se pode para se conseguir um emprego, mas todos os dias se sente culpado por ter declarado que sabia falar islandês. O seu pai, turista ou marinheiro, esteve em Portugal o tempo suficiente para seduzir-lhe a mãe e deixar-lhe o bebé na barriga. Aperfilhou-o, mas nunca houve qualquer contacto, em pessoa ou por escrito. Há dois anos comunicaram-lhe a sua morte. Concordou que doassem a roupa e recebeu pelo correio os seus únicos haveres, um relógio velho e um livro em islandês, a bíblia, com o carimbo de um hotel. Quando afirmou que além do inglês (básico, aprendido no liceu apesar das inúmeras faltas), sabia islandês, sendo o seu pai de lá, todos acreditaram. Tanto mais que era alourado (saía nisso à mãe - sobre o pai, as versões da mãe divergiam, quanto a se era louro ou tinha cabelo grisalho).
Ficou com o emprego: recepcionista no Star Hotel (um quase cinco estrelas) no turno da noite.
Naquela semana a expectativa tinha sido grande pela chegada do grupo Steel Stone, a mais famosa banda de rock do mundo, como foi amplamente noticiado.
Reservaram todo o 6º andar com a prévia exigência que todos os quartos tivessem mobiliário branco e garrafas de água Perrier - ele e dois colegas andaram a carregar sofás e a pintar armários.
Tinham chegado de tarde e não os viu. O concerto seria no dia seguinte e estariam a recuperar do voo e da diferença horária.
Esperava ter uma noite tranquila – já tinham sido avisados pelo gerente da importância dos hóspedes e “nem pensar em pedirem autógrafos ou selfies!”.
No entanto, pelas três da manhã tocou o telefone e era o líder, Roger Steel a gritar algo que lhe soou como: ” I’ want a portuguese stripper singer”.
Depois de apelar para os seus conhecimentos de inglês, lembrou-se da sua prima Gracinha que cantava num rancho. Tinha um pouco de buço, mas àquela hora, talvez passasse. Não se recordava era do queria dizer “stripper”.
Ligou para a prima que acedeu a vir com dois elementos do rancho.
Quando chegaram, a prima um pouco mais gorda, todos vestidos com trajes regionais, levou‑os à suíte principal.
Estava muito barulho e não o deixaram entrar.
Nem meia hora depois, passavam por ele a correr a prima e os elementos do grupo, afogueados e meios despidos.
Ainda hoje a prima não lhe fala. 

11 comentários:

  1. Imaginação, humor, uma história muito bem contada.
    CHAPELADA!!!!!
    Beijinhos

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  2. parece-me uma boa 1ª tentativa :)) e engraçada

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  3. Obrigada Pedro e Marizei por terem lido e pelas palavras.
    um beijinho
    Gábi

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  4. O resultado de não se lembrar do significado stripper :) Gostei.

    Um beijinho Gabi
    Adelia

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  5. Por amor de Deus onde vais buscar estas coisas? Fácil de ler, sem arabescos desnecessários, grande sentido de humor. Como vês não gostei.:)

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  6. Obrigada Adelia :)
    um beijinho


    Obrigada por teres lido Tumbelina e pela crítica :)



    Obrigada Luísa :)

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  7. Muito interessante.
    Gostei.

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  8. Obrigada por teres lido e pelas palavras :)
    um beijinho

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  9. Gostei bastante não só por estar bem escrito, como é habitual, mas porque mostra um lado maroto teu.

    Beijinhos Gábi

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  10. Obrigada por leres e pelo comentário David :)
    um beijinho
    Gábi

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