sexta-feira, julho 24, 2015

Post 4952 Um grande amor

Filme: Um grande amor
Última cena: Despedida
Cenário: O Hospital central, à noite. Lá fora chove, afastando os últimos transeuntes, que em passos apressados se abrigam sob os edifícios ou correm para os carros, sublinhando a ideia de vazio. Numa sala, perto dos Cuidados Intensivos, Helena e o cunhado encontram-se com dois médicos. Helena sentada a um canto da mesa parece meio alheada da conversa.
Num flashback ou cena retrospectiva, assistimos a uma sua memória de um momento que viveu com o marido. Os dois mais jovens, ainda só namorados, num dia de verão. Ela deitada na relva, ele sentado, entusiasmava-se a expor-lhe as ideias que tinha para um trabalho, e ela resolveu fingir que tinha adormecido. David representou então o príncipe encantado para a acordar com um beijo e acabaram a rir os dois.
Helena desperta para o presente ao perceber que os médicos falam sobre o traumatismo devido ao acidente, coma irreversível e doação de órgãos.
Levanta-se, e diz: “quero uns momentos a sós com ele para me despedir”.
Um dos médicos leva-a até ao quarto e sai, encostando a porta. Ali a luz é mais ténue e centra-se no leito.
Deitado com a cabeça ligada, o ritmo cardíaco monitorizado e a soro, ele parece dormir.
Helena senta-se ao seu lado. As lágrimas descem pelo seu rosto vagarosamente e é com uma voz suave que se dirige a ele: “foste o melhor dos amigos, o melhor namorado e marido que poderia ter, ofereces-te sempre tudo e por isso nunca antes te pedi nada, mas meu amor não te posso deixar ir, não quero viver num mundo em que não estejas, não me deixes”. Helena inclina-se, fecha os olhos e beija-o nos lábios demoradamente. Quando acaba o beijo, afasta-se só alguns centímetros, abre os olhos e olha-o com esperança.
É só o seu rosto que a Câmara mostra.
Da esperança passa para a decepção e para o desespero.
Levanta-se fora de si, em direcção à porta e é barrada pelo cunhado que entretanto também viera para o quarto. Procura refúgio nele, mas este estranhamento não retribui o abraço e interpela-a: “Olha!”.
Só então a Câmara se centra na cama. O rosto de David permanece impassível.
A Câmara desce pelos seus braços e foca-se na mão esquerda. David ergueu dois dedos e não se trata de um movimento reflexo, mas intencional.

3 comentários:

  1. Escrevi este texto em resposta a um desafio, Miss Smile e por isso ficou um bocadinho diferente do que normalmente escrevo :)

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  2. O poder do amor...e da vontade de viver.
    Gostei!

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