segunda-feira, outubro 25, 2010

Género e consciência

Eu sou do género que tenta seguir os ensinamentos da mãe do coelho Tambor, amigo do Bambi. Pois a sua digníssima mãe admoestava o filho Tambor para quando não tivesse nada de simpático a dizer sobre alguém, ficasse calado.

E esforço-me por levar ainda mais longe esta doutrina, procurando encontrar algo de positivo a dizer (o que por vezes pode ser justificadamente muito irritante). Assim, por exemplo, quando estou num grupo em que estão todos a falar do nosso actual Primeiro Ministro, pode sair-me algo como "mas veste bem"...(antes também podia dizer "mas tem uma namorada gira e inteligente, mas actualmente fiquei sem este argumento). Felizmente que num grupo empenhado e animado em criticar, raramente tenho hipótese de dizer alguma coisa e o melhor então é sair de mansinho antes de ser levada a romper a douta sabedoria da mãe Coelha e me juntar a eles.

Por outro lado, nas vezes em que cedi a este meu lado negativo, além da voz da consciência, também descobria a poucos passos o visado ou visada ou alguém parecido ou alguém que não o sendo, poderia imaginar que o era, o que também não me incentivou a seguir por aí.

Sobre a voz da consciência, quando era criança, a minha avó contou-nos uma história de um menino que se portava mal e se gabava de ficar impune porque ao contrário do que a sua avó lhe dizia, não ouvia voz nenhuma...entretanto esqueci-me de como é que a história terminava (se alguém souber agradecia-se que o partilhasse em comentário) embora pense que acabava tudo bem (o miúdo deve ter passado a ouvir a história, começado a portar-se bem, casado com uma princesa e devem ter vivido felizes para sempre). Lembro-me de quando ouvia a história ter pensado que eu também à noite não ouvia voz nenhuma. Muito mais tarde percebi que no meu caso, a voz da consciência estava na intranquilidade quando me deitava. A voz da consciência é a culpa, vergonha ou arrependimento por não ter sido melhor.

4 comentários:

  1. Está consciente de que as boas intenções nem sempre dão bons resultados, não está, redonda? Que, no mundo adulto, as visões cor-de-rosa (sem duplo sentido) podem originar riscos gigantescos? Afinal, toda a gente tem pontos positivos. Hitler, por exemplo, adorava Blondi, a cadela que morreu com ele no bunker...

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  2. Conscientíssima!

    Como irmã do meio tenho experiência em estar em cima do muro...mas também pode ser o meu irritante espírito de contradição - se todos começassem a falar bem, teria de falar mal(e agora fiquei com um elemento de informação positivo sobre o Hitler, sabe-se lá como o irei utilizar...)

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  3. Caríssima amiga Gábi,

    É bom saber que é do género de pessoas que favorece o crescimento dos outros pela crítica construtiva e pelo elogio sincero, ao mesmo tempo que dá espaço à voz da consciência, não obstante essa voz possa ser em nós adultos bastante mais um emaranhado de pressupostos que podem gerar esse sentimento de intranquilidade ou mesmo de alguns impasses.

    Infelizmente, também não sei o fim dessa bela história, mas gostava também de a conhecer.

    Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
    www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

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  4. Obrigada pelas palavras, Nuno Sotto Mayor Ferrao, embora eu seja mais do género caladinha.
    Estou a tentar encontrar a revista, mas na Fnac a que fui não tinham. Vou procurar em outra Fnac...

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