terça-feira, março 31, 2009

Poema de Ana Luísa Amaral

VISITAÇÕES, OU POEMA QUE SE DIZ MANSO, de Ana Luísa Amaral


De mansinho ela entrou, a minha filha.


A madrugada entrava como ela, mas não

tão de mansinho. Os pés descalços,

de ruído menor que o do meu lápis

e um riso bem maior que o dos meus versos.


Sentou-se no meu colo, de mansinho.

O poema invadia como ela, mas não

tão mansamente, não com esta exigência

tão mansinha. Como um ladrão furtivo,

a minha filha roubou-me inspiração,

versos quase chegados, quase meus.


E mansamente aqui adormeceu,

feliz pelo seu crime.

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