domingo, janeiro 27, 2008

Trabalho feito na sessão - A minha morte

Mas vou mesmo morrer?
Sei-o na dor que sinto cada vez que inspiro, no ritmo descompassado do coração no meu peito e sobretudo no olhar dos que me cercam: os dois filhos que queria ter. Parecem tão envelhecidos os meus filhos. A Joana tem sulcos de lágrimas no rosto, o João olha para o chão. Tal como o pai, nestas situações não sabe o que dizer.
Não vou mais poder fazer nada por eles.
Será que há um depois, será que vou reencontrar os que perdi?
Estou velha, doente, mas não quero morrer.
Apesar de estarem ao meu lado, sinto-os cada vez mais longe. Não me podem seguir para onde vou. Morre-se sempre sozinho.
Não quero morrer.
Sinto que o coração pára de bater. Tenho medo, afundo-me num poço escuro, perco a consciência, antes penso apenas, "morro".

14 comentários:

  1. Mania de ler os posts antes de ler os titulos...
    ... que susto...
    Bom final de domingo. :)

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  2. bom trabalho... de uma morte anunciada!

    gostei de te ler...
    bolas! mas porque sabia de que morte se tratava...

    beijo vivo

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  3. Que belo texto. Gostei muito.

    Beijinhos Gabriela.

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  4. Adorei o texto. Senti um arrepio a percorrer a espinha e imaginei-me na mesma situação.
    Como será quando chegar essa hora? O que sentirei? O que sentirão os outros que estão à minha volta?
    Concordo que toda a gente morre sozinho. E depois? Como será?

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  5. Gostei da tua "morte"...

    abraço Redonda

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  6. Vi ontem um filme do Rossellini em que uma personagem que ia ser executada dizia que era fácil ter uma boa morte, que mais difícil era viver bem. Acho que ambas as coisas são difíceis. Claro que no contexto do filme o assunto era tratado em termos morais: viver segundo princípios e morrer em consonância. Tentar viver bem é provavelmente um passo importante para mais tarde termos uma morte apaziguadora, em paz interior. Mas temo que na hora «h» nada nos tenha verdadeiramente preparado para isso.

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  7. :):) Ler este post assim deve ser estranho Nani :)Mesmo um susto :)
    uma boa semana :)



    Gostei que tenhas gostado Pin Gente
    um beijinho


    Olá maltês :)
    Não queres experimentar também escrever alguma coisa?
    Pode ser que um destes dias te convença a começares um blog :)
    um beijinho


    Olá Berta Helena :)
    Obrigada
    um beijinho



    Obrigada Nada Acontece :)
    Na sessão o Professor referiu que há quem queira que não haja um depois (talvez por a morte significar o cessar da dor?)



    Obrigada Luis Eme :) também como escrevi em cima para a Pin Gente gostei muito que tivesses gostado
    um beijinho



    Penso como tu, Cláudio
    Se calhar na hora "h" preferia era estar a dormir.

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  8. Mas será que não há algo demais depois? Quem sabe?!?
    Será que somos apenas "isto"? Matéria que nasce, cresce e morre?
    Vidas passadas, vidas futuras?

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  9. Penso que gostaria que existisse um depois...

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  10. gostei muito do teu texto, é forte, como o tema!
    continua a escrever, sem dúvida que tens talento!

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  11. Fui à clínica buscar os resultados dos meus exames médicos. Abri o envelope mas, lá dentro, em vez de um relatório, estava uma certidão de óbito em meu nome. Que chatice, tinham-se enganado! Chamei a enfermeira, expliquei-lhe a situação, mas ela argumentou que, não tendo eu formação específica - já que não era nem médico, nem enfermeiro, nem sequer coveiro -, não estava habilitado para afirmar que estava vivo. E se um médico havia passado aquele documento...

    - O senhor sabe quantos anos estuda um médico?

    - Mas o...

    - Espere! Sabe ou não sabe?

    - Mas o que é que isso interessa?! Não vê...

    - Espere lá, tenha calma! Nunca vi um morto tão agitado, caramba!

    - Morto?! Mas não vê que eu...

    - Que é um ignorante, claro está! E convencido! Um fulaninho que nem a 4ª classe deve ter, a desmentir a palavra de um médico! Que descaramento, ao que este país chegou! Se ele diz que está morto, é evidente que o senhor está morto, não acha?!

    Não valia a pena. Vim-me embora.


    Em casa, à noite, liguei a televisão. No telejornal noticiavam que havia sido avistado um morto a sair, pelo seu próprio pé, de uma clínica de Lisboa. Afinal era verdade.


    Voltei lá e pedi desculpa à enfermeira. Saí. Fiz sinal a um caixão que passava na rua.

    - Está livre?

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  12. :) Fui deixar um comentário no teu blog...talvez gostasses de ir a um atelier como este e o atelier ia gostar de ti :)

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