segunda-feira, outubro 08, 2007

François Dufrêne


Também hoje, ou aliás ontem, dia 7.10.07 fui ver em Serralves a exposição de François Dufrêne.
Ele utilizou a linguagem, o texto, o som, a voz, o filme, materiais encontrados nas ruas da cidade, como cartazes e tapumes de construção, cruzando-os como fragmentos de uma realidade que interrogava para melhor a encontrar.
Aproveitou o letrismo de Isidore Isou para resgatar do esquecimento a nova cultura verbal que artistas Dada como Ball, Hausmann, Huelsenbeck e Schwitters tinham iniciado com as suas poesias sonoras.
Uma acutilante dimensão crítica dos seus textos revela-se nos jogos de assonâncias e de aliterações que nos reenviam para nomes e palavras existentes, transgredidos a partir da proliferação de repetições, variantes e de "bruitages" que suscitam novos ritmos, sentidos e estruturas poéticas. O seu "griritmo" ("crirythme") assumirá a condição de uma rejeição do escrito, enquanto poema fonético difundido através do gravador, sem qualquer suporte impresso. Atomizar a palavra através da letra ou do fonema, num jogo permanente de rupturas semânticas definirá uma estratégia poética de explosão da linguagem para a criação de possibilidades de uma linguagem diferente. A sua Cantate des Mots Camés reivindica a caligrafia e a voz, enquanto entoações da imagem que progressivamente se reduz à imagem do próprio texto, liberta da cor e dos motivos que lhe conferiam a dimensão de uma iluminura no seu início
Quando acompanha Hains, Villeglé, Rotella e Wolman nas suas derivas pela rive gauche da Paris do pós-guerra, não se limita a recolher e a utilizar o cartaz rasgado anonimamente mas vai mostrar-nos o avesso dos cartazes ("les dessous d'affiches"), invertendo em espelho as suas imagens e palavras, contestando-lhes o sentido, libertando-os da cor que lhes conferia a eficácia da sua função inicial de propaganda ou publicidade.
Mais do que a exploração dos seus sentidos conceptuais como acontece em Hains, ou do que a sua apropriação pictórica em confronto com a redefinção da pintura que a Escola de Paris protagonizava, como acontece em Villeglé, Dufrêne interessa-se por uma contestação dos signos comunicativos que esses cartazes configuravam. - Retirado do texto facultado em Serralves.

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